"Às vezes as pessoas estão muito tristes e, quando olham para o caminhão e têm aquele impacto, começam a sorrir". Esse é um dos motivos, nas palavras do entregador de gás, conhecido como Jiló, que o fazem percorrer as ruas de Londrina e região com seu caminhão
Jiló - na carteira de identidade Valcir da Silva Teles - tem 55 anos e há 23 trabalha para uma revendedora de gás fazendo entregas acompanhado da bicharada. "Todo mundo pergunta se ele está vendendo os bichos", brinca o proprietário da empresa, Fernandes Vieira.
Por baixo, diz Jiló, o caminhão passeia pelas cidades que atende com mais de 120 pelúcias, a maior parte doada por amigos. Cada animalzinho tem uma história. Segundo o entregador, algumas meninas, por exemplo, terminam com o namorado e levam o bicho para ele com forma de se desligar do relacionamento.
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Ele conta que tudo teve início um ano após sua contratação pela empresa. "Comecei com o urso que uma funcionária me deu de presente, resolvi colocar no caminhão e ser um entregador diferente, porque entregador de gás tem bastante por aí. E isso também deixa as pessoas mais animadas, o carro fica divertido", explica Jiló.
Apesar de ainda conseguir calcular o número de "passageiros" do caminhão, o funcionário já perdeu as contas do número de poses que já fez para fotos durante as entregas. Para os colegas de trabalho, seu Jiló é considerado celebridade.
"Não vemos problema, até porque acaba chamando atenção, todo mundo conhece o caminhão da empresa aqui. Além disso, Jiló se tornou folclórico, ele é aquela pessoa que nunca chega triste para trabalhar e levanta todo mundo", diz Vieira.
Mas o proprietário confessa que já tentou parar com a brincadeira. "Eu tirei os bichinhos porque achei que atrapalhava a direção, mas ele voltou a colocar, depois comprei um novo caminhão e proibi ele de juntar os bichos para não estragar a pintura e o teto, mas não teve jeito. Ele trocou o ajudante pelos bichos."
Seu Jiló assegura que os companheiros não o atrapalham enquanto dirige e que são ótimas companhias. "É mais divertido trabalhar com os bichos. Você pode xingar e não dá nada. Você fala 'vai trabalhar', ele fala 'não vou', daí você pode falar 'então fica aí seu filho da mãe'", conta gargalhando.
O apelido de Jiló foi dado por amigos de Tamarana (Região Metropolitana de Londrina), sua cidade natal, em alusão a um personagem de novela. Lá, o entregador levava a alegria junto com os jornais da Folha de Londrina que deixava nas casas. Só não tinha bicho nessa história porque as entregas eram feitas de bicicleta.
O tamaranense se mudou para Londrina em 1992 para "trocar de ares" e, aqui, também recebeu o apelido de Gaúcho, por causa do bigode, e de Super Mário, graças ao quepe recebido do patrão e que já faz parte do uniforme do entregador. Assim como as modas de viola que embalam as entregas.
Seu Jiló - ou Gaúcho ou Super Mário - termina a entrevista prevendo a relíquia que seu caminhão pode vir a ser. "E você sabe que esse caminhão vai ser inédito né? Porque as crianças de hoje só querem internet, Facebook, então quando olharem para o caminhão vão começar a lembrar da infância", completa.
Independente do futuro do caminhão, seu Jiló já é um personagem de Londrina. "Uma coisa fica como certa, você pode levar a vida com alegria e sorriso mesmo que seu dia seja entregando gás num trânsito estressante", escreveu certa vez, em sua conta no Facebook, o fotógrafo Gerson Sobreira, mais um entre tantos admiradores do bom humor do entregador.