O diretor do Departamento de Pesquisa e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini, afirmou que "o Brasil está em processo de desindustrializaçãO". Segundo ele, há uma "constelação de fatores" que está levando perigo ao setor manufatureiro nacional a ponto de frustrar vendas num mercado aquecido, o que acumula estoques indesejados.
Ele citou que entre esses elementos conjunturais estão a guerra cambial, que está em plena evolução no mundo, a forte demanda agregada doméstica e a agressividade de muitos países para exportarem produtos para nações em boas condições econômicas como o Brasil, a fim de estimular o avanço de seus níveis de atividade e geração de emprego.
"Nunca a indústria brasileira enfrentou tanto risco como agora", disse Francini. Ele detalhou que o processo de desindustrialização mencionado por ele pode ser definido da seguinte forma: é a queda da participação relativa do setor manufatureiro no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Ele mencionou que a indústria de transformação já respondeu por 27% do PIB, mas hoje tal parcela caiu para quase metade, pois está em 15% do PIB. "Se esse processo de desindustrialização continuar de forma dinâmica ao longo do tempo, essa participação poderá cair mais ainda, chegar a 13%, 12%, 10% do PIB, e aí a situação será ainda mais complicada", comentou.
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Estoques
Francini afirmou que a situação dos estoques do setor manufatureiro paulista ainda não se regularizou e está demorando mais do que o previsto. De acordo com a pesquisa Sensor, conduzida pela entidade, o item estoque variou de 46,6 pontos em setembro para 45,1 pontos em outubro. Níveis acima de 50 pontos indicam que estoques são insuficientes e abaixo dessa marca sinalizam que os armazéns das empresas estão com mercadorias em excesso. "Numa conjuntura de mercado doméstico aquecido, há o registro de frustração de expectativas de vendas. Acredito que essa questão está diretamente relacionada também ao avanço das importações", afirmou Francini.
No meio do ano, Francini chegou a prever que os estoques excessivos deveriam se regularizar ao final do terceiro trimestre.
De acordo com o diretor da Fiesp, o câmbio sobrevalorizado é um fator que está prejudicando seriamente a indústria paulista, pois dificulta muito a competitividade do produto nacional em relação aos adquiridos no exterior. Para ele, o próximo presidente da República "será obrigado a atacar" o problema do câmbio excessivamente apreciado. Mas o direto ressaltou que isso não será feito apenas com uma medida. "Será necessário que o próximo presidente atue com um conjunto de ações", disse Francini. Ele acrescentou que tal atuação passaria pela melhor gestão fiscal, o que daria mais chance para redução dos juros e isso, por sua vez, diminuiria o grande diferencial de taxas de juros entre Brasil e outros países.
A taxa real de juros no País medida pelo critério ex-ante está próxima a 5,80% ao ano, enquanto é negativa nos EUA, Japão, zona do euro e Reino Unido.
De acordo com a série temporal 11753 do Banco Central, o câmbio médio de setembro, deflacionado pelo IPCA e CPI dos EUA, apresentou uma apreciação de 31,3% ante o dólar, quando é levado em consideração que a base 100 é junho de 1994.