Os hábitos de consumo do brasileiro mudaram. Ele está comendo mais fora de casa, usando com maior frequência o transporte individual, adquirindo mais bens duráveis e gastando uma fatia maior da renda com educação e saúde. Queda da inflação, aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, crédito facilitado e mudança de preços relativos da economia, com aumento dos serviços e recuo dos alimentos, bens duráveis e semiduráveis, explicam as mudanças.
Isso é o que mostra uma radiografia feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a partir da Pesquisas de Orçamento Familiar (POF) de 1988 e de 2003, apresentada no livro ''Gasto e Consumo das Famílias Brasileiras Contemporâneas''. Em 1988, por exemplo, as famílias gastavam 26,6% do orçamento com alimentação fora de casa. Quinze anos depois, em 2003, essa fatia tinha aumentado para 30%. Nesse mesmo período, houve uma queda de 19,5% para 16,3% da alimentação como um todo nas despesas das famílias.
A maior preocupação em ganhar tempo reduziu o consumo doméstico de alimentos que demoram para serem preparados e aumentou a demanda da comida pronta para consumo. Entre 1988 e 2003, caiu 42,4% o consumo per capita de arroz dentro dos lares e 23,9% o de feijão. No mesmo período, cresceu 307,6% o consumo per capita de alimentos preparados no domicílio; 192,3% o de refrigerantes e 163,6% o de iogurte.
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O maior gasto com o transporte individual entre as camadas de menor renda é o outro ponto de destaque do estudo do Ipea. Os 10% das famílias mais pobres, que empenhavam 1,21% do orçamento com a manutenção do veículo próprio em 1988, passaram a gastar 2,55% em 2003. No sentido inverso, os 10% das famílias mais ricas diminuíram de 9% para 7,4% o desembolso no período.
''Há quinze anos, era muito difícil comprar um carro novo'', observa Campolina. Mas a abertura do mercado para os produtos importados forçou a queda nos preços. Além disso, com a estabilização da moeda, o crédito de longo prazo deixou a compra do veículo mais compatível com o orçamento. Hoje é possível adquirir um carro novo em até 72 meses.
As facilidades para comprar um veículo se repetem para outros bens duráveis, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar, por exemplo. Esse fator, aliado à queda nos preços, impulsionou a aquisição de bens duráveis, especialmente entre as camadas mais pobres.