Alvo de constantes reclamações dos usuários, principalmente no Paraná, as altas tarifas cobradas pelas concessionárias de pedágio podem ser reduzidas com o auxílio da tecnologia, que possibilita o pagamento conforme os quilômetros utilizados durante o trajeto pela rodovia.
O sistema Free Flow foi o principal assunto debatido no segundo dia do 8º Congresso Brasileiro de Rodovias & Concessões, realizado em Santos entre segunda-feira (12) e quarta-feira (14). Com a instalação de pórticos nas estradas, a cobrança seria ampliada e passaria a ser realizada de uma maneira mais justa.
Por exemplo, na BR-369, na Região Metropolitana de Londrina, o motorista que sai de Arapongas e vai até Londrina paga a tarifa de R$ 6,10. No entanto, o condutor de faz o trajeto a partir da cidade de Rolândia não desembolsa nenhum centavo para trafegar no mesmo local.
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Assim, se o Free Flow se tornar uma realidade, mais pessoas vão pagar a tarifa, no entanto, com preços calculados a partir dos quilômetros rodados na estrada pedagiada.
"Na hora que você cobrar de todos, é evidente que a tarifa vai cair, pois as pessoas que usam sem a cobrança, vão passar a pagar. Isso amplia a base de pagantes, o que é muito mais justo", declarou o diretor-presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR), Moacyr Servilha Duarte, durante entrevista coletiva nesta terça-feira (13).
Ele ressaltou que a tecnologia necessária já está disponível, mas o desafio é "quebrar a resistência" dos usuários que passarão a ser cobrados pelo novo sistema. "A tecnologia é parecida com a do Sem Parar e os pórticos já são testados em São Paulo, onde o veículo passa e debita na conta do usuário."
A principal diferença seria a ausência da praça de pedágio. "Na minha visão, isso deve acontecer entre cinco e 10 anos. Além da resistência inicial de quem começará a pagar, outra dificuldade seria como encontrar o usuário que utilizada a rodovia e não realiza o pagamento", comentou Duarte.
Sem barreiras na pista, calcula-se que a inadimplência pode ser de 5% a 10%, de acordo com dados da empresa Sem Parar. Por isso, a implantação do Free Flow passa pela regulamentação do Siniav, sistema para rastrear automóveis por onda de rádio, que é discutida pelo Governo Federal. Se o sistema se tornar uma realidade, os novos veículos passarão a ser fabricados com a tecnologia e os demais motoristas vão ter um prazo para se adaptar com a implantação do chip nos automóveis.
Questionado se a extinção das praças de pedágio pode provocar demissões no setor, o diretor-presidente respondeu que o arrecadador deve ser substituído por funções que exigem mais qualificação para controle e monitoramento dos veículos. "Teremos outro tipo de atividade, um pouco mais sofisticada. Então, teremos outras vagas de trabalho para funções mais complexas", avaliou.
Tarifa justa é realidade em três rodovias
Três rodovias paulistas já contam com a cobrança ponto a ponto, que começou a ser implantada a partir de abril de 2011 com objetivo de tornar a cobrança mais justa no Estado. Ao contrário do Siniav, a adesão do usuário é voluntária no sistema de cobrança por quilômetro percorrido. No entanto, quem não adere é obrigado a pagar a tarifa cheia.
O projeto piloto foi instalado na SP-360 em Itatiba em benefício de nove bairros do município com implantação de um pórtico a três quilômetros da praça de pedágio. Segundo o assessor de Tecnologia da Informação da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), Giovanni Pengue Filho, a redução da tarifa para os moradores que se deslocam ao centro da cidade foi de 70% com redução de R$ 2,10 para R$ 0,60.
Outro projeto piloto foi implantado na Rodovia Santos Dumont para atender sete cidades. A tarifa para quem vai de Indaiatuba para Campinas caiu de R$ 10,50 para R$ 4,20.
Com adesão aberta para qualquer usuário, o principal projeto da Artesp foi instalado na SP-340 com investimento de R$ 6 milhões. O preço cobrado na rodovia é de R$ 9,50, mas com a instalação de um pórtico o motorista que adere o sistema passou a pagar R$ 4,75 quando percorre a metade do percurso. "O usuário que anda todo o trecho paga o mesmo valor cobrado anteriormente, mas beneficia quem anda na menor parte do trajeto", explicou Pengue Filho.
Ele esclareceu que qualquer rodovia pode receber o Free Flow após avaliação técnica para instalação dos portais com distâncias que variam dependendo de cada estrada. O assessor de TI acredita que o modelo paulista pode servir de exemplo para outros estados, entre eles, o Paraná.
"Na SP-340, que passa por Jaguariúna, temos 80% de satisfação e 70% dos usuários querem a ampliação do ponto a ponto para outras rodovias", destacou.
Atualmente, três empresas operam os Tags - aparelho instalado no veículo para cobrança rápida – em São Paulo com oito opções de planos pré-pago ou pós-pago. Até o final do ano, mais uma empresa deve ser autorizada a oferecer o serviço aos motoristas que circulam pelas estradas pedagiadas do Estado.