A melhora da confiança do consumidor deve ter início apenas a partir do segundo semestre de 2015, mas só deve ser mais claramente restabelecida em 2016, de acordo com analistas do mercado financeiro. Depois das turbulências econômicas e políticas de 2014, o quadro ainda é de incertezas e a perspectiva é de que o cenário econômico passará por testes capazes de desanimar ainda mais o brasileiro, após o início do novo mandato da presidente da República, Dilma Rousseff.
"A eleição, por tudo que estava sendo decidido, e pelos riscos do que poderia daí decorrer, afetou a confiança, sim. Ela aumentou as notícias negativas, pois havia diversos partidos mostrando os problemas", disse o economista-chefe do Banco Cooperativo Sicredi, Alexandre Barbosa.
O economista-chefe da Infinity Asset, Carlos Acquisti lembrou os temores que existiam em torno de um eventual fracasso na organização da Copa do Mundo, mas avaliou que o evento decorreu melhor do que esperado e concordou que a política foi mais prejudicial ao sentimento do consumidor. "Tirando os 7 a 1 (placar da histórica derrota do Brasil ante a Alemanha), acabou ocorrendo tudo bem na Copa do Mundo, e não se confirmaram as expectativas de colapso do sistema de transportes e da rede hoteleira. O pior mesmo foi o cenário eleitoral de muitas incertezas, geradas tanto para o lado do consumidor como do lado do empresário", afirmou Acquisti.
Leia mais:
Um terço das famílias brasileiras sobreviveu com renda de até R$ 500 por mês em 2021, mostra FGV
Taxa de desemprego no Brasil cai para 9,8%, segundo IBGE
Termina nesta terça o prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda
Número de inadimplentes de Londrina cai 14% em abril, segundo dados do SPC
Na Icatu Vanguarda, o economista-chefe Rodrigo Alves de Melo acrescentou que o cenário eleitoral gerou insegurança e atrapalhou a atividade econômica. "Isso gera menos emprego e menos confiança", destacou.
Para Acquisti, o "furacão" gerado pela eleição não terminou e há fatores do cenário macroeconômico que deixam o consumidor à espera, antes de voltar a confiar na recuperação do País. "As famílias estão num nível de endividamento muito alto e isso contribuiu para um pessimismo e um pé no freio", comentou. "Estamos vendo, mês após mês, o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) batendo recorde de piores resultados dos últimos anos; o mercado de trabalho menos aquecido, apesar dos dados oficiais ainda mostrarem taxa de desemprego baixa e a renda real ainda em crescimento; a inflação muito pesada e alguns preços represados. A minha percepção é de que está todo mundo em stand by ainda e com um pé atrás, sem saber o que vai acontecer", avaliou, lembrando também de incertezas relacionadas ao mercado externo.
De acordo com Barbosa, do Banco Sicredi, para acabar com o quadro de baixa confiança do consumidor, o governo terá de adotar medidas impopulares, mas necessárias. "A resposta é o ajuste necessário e a volta ao básico, ao bom e velho arroz com feijão. Ajustar o macro e avançar no micro", disse. "No curto prazo, os impactos ainda serão duros, mas a inflação cedendo e os investimentos subindo criariam novas perspectivas a partir de 2016. O setor público precisa se ajustar. O setor privado está em stand by", acrescentou.
Para Barbosa, o consumidor precisa de inflação controlada e mais baixa do que a atual, com perspectivas de crescimento da economia. Até que isso ocorra, verá a taxa de desemprego aumentar e seguirá com o temor de que poderá estar desempregado nos próximos meses. "Ou seja, ele verá o pior antes de ver o melhor", alertou, ponderando que além disso poderá haver a resistência de determinados segmentos, até da base de apoio do governo, para a implementação das medidas. "Haverá pressão para que o ajuste seja desfeito. E é aí que mora o perigo. Se o ajuste deixar de ser feito, podemos ir para um caminho sem volta", afirmou.
Retorno da confiança
Exatamente por conta dessa tarefa árdua que o governo tem pela frente, os profissionais do mercado não vislumbram um momento muito próximo da recuperação da confiança do consumidor. "É difícil imaginar uma reversão de expectativas. O cenário é de atividade fraca, com riscos para pior", disse Melo, da Icatu Vanguarda, lembrando que o panorama atual de depreciação cambial é mais um empecilho para a melhora.
Acquisti reforça a ideia de que o noticiário ainda é muito ruim para a economia e acrescenta as denúncias relacionadas à Petrobras no quadro de incertezas. "A partir do momento que você sabe que o quadro vai ser horrível, mas tem certeza do que vai acontecer, você tem, pelo menos, uma perspectiva de médio prazo. Enquanto não se sabe qual o tamanho do esqueleto que vai sair do armário, é muito difícil ter uma recuperação de confiança", opinou. "Eu estou mais esperando a retomada da confiança a partir de 2016", comentou.
Em sintonia com os dois colegas, Barbosa, do Sicredi, avaliou que um sentimento melhor sobre a economia só seria notado, "no mínimo", mais para o segundo semestre de 2015. "O ajuste a ser feito no País não é pequeno. Virão os custos antes da perspectiva de melhora", insistiu.