Pelas contas da consultoria PSR, do especialista Mario Veiga, o Brasil teria de cortar 8% do consumo de energia para conseguir atravessar o período seco - que vai de maio a outubro - sem problemas. Em apresentação feita na quinta-feira, 10, a um banco de investimento, a consultoria reviu mais uma vez o risco de racionamento, agora para 48%, com base nas previsões semanais do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), como o nível de chuva de 74% para esta semana.
No cálculo, a consultoria tentou equilibrar o chamado "custo do arrependimento", que ocorreria no caso de decretar um racionamento sem necessidade e no caso de decidir pela redução de consumo tarde demais e ser obrigado a adotar um programa mais drástico. Com um corte de 4%, por exemplo, haveria mais possibilidade de, no meio do caminho, o governo ser obrigado a elevar a redução. Na hipótese de 12%, o risco de a dose ser maior que o necessário sobe.
Os 8% seriam o equilíbrio entre os dois riscos. Além disso, atenuaria os impactos para 2015. A consultoria fez questão de ressaltar que as previsões podem mudar se na semana que vem o ONS elevar as previsões de chuvas para 80%, por exemplo. De qualquer forma, os números não terão uma revisão drástica, já que a situação dos reservatórios está cada dia mais complicada.
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No sistema Sudeste/Centro-Oeste, onde o problema é mais crítico, o nível de água nas represas voltou a cair depois de ligeira alta nas últimas semanas. Na quarta-feira estava em 36,57%, após três recuos consecutivos. Para o diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, quanto mais tempo demorar para o governo tomar uma decisão, mais drástico poderá ser o corte. Em 2001, o plano de racionamento, que previa corte de 20% e multa para quem desobedecesse as regras, foi iniciado em junho.
Especialistas, no entanto, não acreditam que o governo vá adotar uma fórmula igual à do governo Fernando Henrique Cardoso. A principal aposta é na redução voluntária do consumo. Pinguelli defende um corte imediato de 5% a 10% da demanda. "Há muitas maneiras para alcançar essa meta, como campanhas de estímulo à economia de energia, com bonificação na tarifa para o consumidor." Nesse caso, diz ele, o governo teria de encontrar uma solução para equacionar a questão financeira que a medida envolveria.
Outra proposta seria estabelecer limites para o uso do ar-condicionado, afirma Pinguelli. "No Japão, se você ultrapassa um determinado limite, você é multado. Nas residências, é mais difícil fazer o controle, mas nas empresas seria possível."
O presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), Carlos Faria, também defende um plano de racionalização neste momento. "Não há dúvida de que estamos vivendo um momento preocupante. Uma vez mais tenho de criticar a falta de clareza do governo federal sobre a real situação", destaca o executivo, lembrando dos discursos do governo sobre os riscos, de baixo para baixíssimo. "Agora já acenderam o sinal amarelo. Não é possível reverter essa situação contando com a chuva."
Ele conta que tem aconselhado os associados a reprogramar as carteiras de pedidos. Segundo Faria, cerca de 30% deles já teria adotado medidas para reprogramar a linha de produção, com férias coletivas e outras iniciativas. Em contrapartida, podem vender a energia economizada no mercado à vista, cujos preços estão em R$ 822 o megawatt-hora (Mwh). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.