A qualidade dos serviços de eletricidade piorou nos últimos anos, apesar do aumento no custo da conta de luz. Depois de alcançar o menor nível da história, no período após o processo de privatização do setor elétrico iniciado em 1995, o volume de blecautes voltou a subir em todo o País.
Em algumas localidades, os indicadores estão no pior nível da década, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). É o caso das distribuidoras do Pará (Celpa) e de Minas Gerais (Cat-Leo e Cemig), entre outras.
No ano passado, os brasileiros ficaram, em média, 16,61 horas sem eletricidade - número superior às 16,57 horas de 2001, quando o racionamento deixou a rede de distribuição mais folgada e menos vulnerável aos blecautes. A média nacional, no entanto, esconde casos extremos, como o de São Luiz do Anauá, em Roraima, onde as interrupções somaram 1.007 horas em 2008. Isso significa ficar um mês e 11 dias sem eletricidade no ano. Apesar disso, a tarifa média da região está em R$ 290 o MWh, a maior do País.
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Nesse caso, a explicação para o alto preço e as interrupções está no fato de o Norte fazer parte do sistema isolado, atendido basicamente por termoelétricas movidas a óleo combustível. Mas a relação qualidade e custo da energia está muito distante do desejável em qualquer região do País, diz o professor da Universidade de São Paulo Ildo Sauer. "Temos as contas de luz mais caras do mundo e uma péssima qualidade de energia."
A justificativa das concessionárias para a piora nos indicadores de interrupção está na severidade do clima, com raios e tempestades. Isso acaba derrubando a rede e interrompendo o fornecimento de energia. "Em São Paulo, o maior problema é a queda de árvores", diz Roberto Mario Di Nardo, vice-presidente da AES Eletropaulo, maior distribuidora do Brasil.
Segundo ele, até novembro, foram 24.171 interrupções provocadas por queda de árvores ou galhos nas linhas - volume 18% superior a todo o ano de 2008 e 29% em relação a 2007. Isso contribuiu para elevar de 9 para 11 horas o tempo médio que os consumidores ficaram sem luz na região.
Brasil tem um miniapagão a cada três dias
O País registrou mais seis miniapagões entre o apagão do dia 10, que atingiu 18 estados brasileiros, e a última sexta-feira. Além disso, na semana passada o consumo brasileiro de energia registrou três recordes consecutivos. As informações constam dos boletins diários de operações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O consumo recorde é atribuído às altas temperaturas.
O primeiro corte ocorreu dois dias após o apagão e atingiu os Estados do Acre e Rondônia. Segundo o boletim de operações do ONS, o desligamento automático da linha de transmissão Vilhena-Pimenta Bueno provocou a interrupção no fornecimento de 201 megawatts (MW) às distribuidoras Eletroacre e Ceron. O incidente ocorreu às 17h46 e a energia foi totalmente restabelecida seis minutos depois, segundo os relatórios do ONS.
No dia seguinte, cidades do norte do Mato Grosso passaram 16 minutos sem luz por conta do desligamento da linha Nobres-Sinop, que interrompeu o fornecimento de 124 MW à distribuidora Cemat.
No dia 19, mais uma vez Rondônia e Acre foram prejudicados, com a queda da mesma linha do dia 12, provocando desta vez o corte de 109 MW. O restabelecimento levou entre 10 e 14 minutos (no Acre e Rondônia, respectivamente).
Nesse mesmo dia, o fornecimento ficou comprometido na região metropolitana de Porto Alegre (RS) por conta da explosão de dois transformadores na subestação Gravataí 2, da CEEE, às 13h12. A totalidade do abastecimento foi retomada mais de duas horas depois, às 15h43.
No dia 22, consumidores das distribuidoras Energisa e Ceal tiveram transtornos com a interrupção, por 25 minutos, de 112 MW por conta do desligamento da linha de transmissão Rio Largo II - Penedo.
A última ocorrência foi registrada no dia 23, com o desligamento, às 14h30, de um transformador na subestação Goiânia Leste, da Celg. O problema causou a interrupção de 30 MW de carga na região central de Goiânia (GO). Após várias tentativas, o fornecimento foi totalmente restabelecido às 16h05, com a transferência de energia de outras regiões.
O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse que incidentes como esses são comuns em uma rede das dimensões do sistema brasileiro. Mas admitiu que o calor acima da média contribui para a ocorrência de problemas. "A carga está crescendo de forma atípica e, embora bem dimensionado, o sistema está sujeito a isso", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.