A atuação do Banco Central (BC) para segurar a crise foi muito além da redução da taxa Selic, que mede os juros básicos, para o menor nível da história. De outubro do ano passado até o fim de agosto, a autoridade monetária injetou R$ 213,6 bilhões no sistema financeiro para manter a economia em funcionamento em meio à escassez internacional de crédito.
A maior parte dessa injeção veio da flexibilização e da redução dos compulsórios – parcela de ativos que os bancos não podem emprestar. Somente com essas medidas, o BC liberou R$ 99,9 bilhões desde o agravamento da crise financeira mundial. A medida de maior impacto foi a mudança na contabilidade de créditos tributários, anunciada em dezembro, que permitiu aos bancos emprestar mais R$ 81,2 bilhões.
A restrição ao crédito provocada pela crise teve efeito ainda mais intenso nas pequenas e médias instituições financeiras, mais dependentes dos empréstimos entre bancos e de investimentos em ações na bolsa. Para impedir o colapso dos bancos de menor porte, o Banco Central gastou R$ 41,8 bilhões até o fim do mês passado.
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Nesse caso, a principal ação do BC foi a ampliação da garantia de depósitos a prazo para R$ 20 milhões por correntista numa mesma instituição financeira por meio de recebíveis de depósitos bancários (RDB). Anunciada em março, a medida injetou R$ 40 bilhões na economia ao livrar os clientes do risco de prejuízos em caso de quebra do banco.
O Banco Central ajudou ainda os exportadores afetados pela falta de crédito a antecipar o recebimento das vendas externas. Para contornar essa dificuldade, a autoridade monetária leiloou dólares das reservas internacionais equivalentes a R$ 24,4 bilhões. A operação não teve impacto nas reservas porque o BC recebe de volta o dinheiro que emprestou.
Além de combater a escassez de crédito, o Banco Central agiu para conter a alta do dólar, que saiu de R$ 1,65 antes do início da crise e chegou a atingir R$ 2,42 no início de março. Para isso, o BC gastou o equivalente a R$ 14,5 bilhões das reservas internacionais na venda a vista de dólares e R$ 33 bilhões nas operações de swaps cambiais tradicionais (venda de dólares no mercado futuro), estratégia abolida quando a cotação voltou a cair, em abril.
Com a queda do dólar nos últimos meses, o Banco Central voltou a atuar de modo semelhante de antes do agravamento da crise, comprando dólares para fortalecer as reservas internacionais. Há exatamente um ano, elas valiam US$ 207,5 bilhões. Na última sexta-feira (11), as reservas estavam em US$ 221,2 bilhões, o maior nível da história.
A entrada de divisas apesar da crise permitiu ao país conquistar uma posição inédita. Em maio, o Brasil anunciou que emprestará US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Pela primeira vez, o Brasil tornou-se credor do fundo. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou que o Brasil cederá o dinheiro em breve.