O agravamento da crise econômica na Irlanda está interrompendo os planos de brasileiros que escolheram o chamado "Tigre Celta" como destino de imigração.
A crise, que começou a atingir o país em 2008, vem afetando principalmente os imigrantes ilegais, segundo Parkieson de Castro, da Embaixada brasileira em Dublin. "Quem está em situação ilegal, que veio procurando emprego mas não encontra, está fazendo o caminho de volta. Já as pessoas estabelecidas aqui, com esposas ou maridos irlandeses, tendem a ficar, a não ser que surja uma boa oportunidade no Brasil", diz.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estima que há aproximadamente 20 mil brasileiros vivendo na Irlanda.
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A embaixada não tem estatísticas oficiais do numero de brasileiros retornando para casa. Mas as estimativas apontam que em Gort, a cidade que um dia ficou conhecida como o "pequeno Brasil" na Irlanda, mais de 50% população de brasileiros já retornaram para o país natal desde o início da crise.
No auge do boom irlandês, quase metade da população de Gort era formada por brasileiros. Agora, de acordo com o sociólogo Frank Murray, as ruas e casas vazias são sinais claros do êxodo brasileiro.
Se antes a população brasileira em Gort chegava a quase 2 mil, as estimativas são de que agora esse número caiu pela metade.
A estatística só não caiu mais porque Gort ainda continua a receber brasileiros que antes viviam em outras regiões da Irlanda onde a política para imigrantes está ficando mais restrita.
"A dificuldade é que muitos brasileiros não têm documentos e, diferentemente dos irlandeses, não têm direito a benefícios sociais e assistência financeira se ficarem desempregados", diz Murray.
"Os brasileiros estão entendendo que as coisas não vão melhorar aqui, e é o mesmo para todos os imigrantes. Muitos poloneses também foram embora. A ficha esta caindo e eles estão percebendo que têm de voltar, porque aqui não existem mais condições."
Abandono
Um frigorífico que empregava muitos brasileiros no passado é agora apenas um prédio abandonado. No muro da construção, ainda restam as placas escritas em inglês e português.
A única loja de produtos alimentícios brasileiros que ainda mantém as portas abertas vende hoje 40% a menos do que já chegou a negociar.
Gislene é uma das poucas funcionarias que ainda trabalha na loja. Na Irlanda há três anos, ela lembra que nos bons tempos o estabelecimento chegou a ter quatro funcionários, além da dona. Hoje, só sobraram duas empregadas.
Mesmo com os sinais da crise e o declínio no volume de trabalho, Gislene mantém uma atitude otimista em relacão à Irlanda e diz que pretende ficar no país enquanto tiver trabalho. "Para que a gente vai largar o certo pelo duvidoso?", questiona Gislene.
Ela acredita que muitos dos brasileiros que estão indo embora já atingiram os seus objetivos. Ela acha que os que não conseguiram fazer o pé-de-meia e estão retornando ao Brasil com a esperança de uma situação melhor podem se decepcionar.
"Já ouvi falar que o Brasil está bom, que o Brasil melhorou, que está bom de emprego. Mas muitas pessoas estão esquecendo que o Brasil é bom para quem tem escolaridade, porque hoje em dia até para trabalhar de auxiliar de limpeza você precisa de estudo", diz.
"A maioria das pessoas que estão aqui não tem um alto nível de escolaridade, então eu acho melhor ficar e desenvolver o inglês para, quando for embora, ir com uma garantia de um objetivo melhor no Brasil."
Crise
A Irlanda é um dos países mais afetados pela crise econômica na Europa. Após um período de elevado ritmo de crescimento econômico, o país foi do boom ao desastre financeiro em um espaço de apenas três anos.
Desde 2008, o preço dos imóveis caiu entre 50% e 60% e os recursos para ajudar o sistema bancário são estimados em 45 bilhões de euros (mais de R$ 100 bilhões).
A União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estão negociando um pacote de ajuda que pode chegar a US$ 110 bilhões, mas o governo tem relutado em aceitar o dinheiro.
Entretanto, o ministro irlandês das Finanças, Brian Lenihan, admitiu que o país vai precisar de ajuda externa para resolver sua grave crise fiscal e a alta dívida dos bancos.