Todos os dias úteis, entre 450 e 500 despachantes aduaneiros circulam pelo Terminal de Cargas do aeroporto de Guarulhos. Vivem da regra de "quanto mais burocracia, melhor", percorrem as repartições com desenvoltura e se alimentam de "quentinhas" vendidas nos porta-malas de carros estacionados nas redondezas. O serviço deles não custa barato. Mas, sem os despachantes, empresas e pessoas físicas dificilmente conseguem liberar um produto importado no Brasil.
"O despachante sempre será bem colocado na atividade de comércio exterior", afirmou o presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de São Paulo, Marcos Farneze, ao ser confrontado com a possibilidade de, um dia, a burocracia ser reduzida substancialmente. "Claro que nós vivemos da burocracia. Quanto pior, melhor para nós", reconheceu.
Se algumas facilidades tecnológicas para o desembaraço aduaneiro foram introduzidas no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), nos últimos anos, recursos toscos ainda se fazem necessários. A sala improvisada dos despachantes aduaneiros no aeroporto de Guarulhos está no final de um corredor do piso térreo, entre os postos de desembaraço do Ministério da Agricultura e da Receita Federal. Sentados em bancos ao longo de uma mesa de madeiras, entre armários pregados nas paredes, eles preservam em local de destaque uma máquina de escrever.
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O instrumento tem serventia. Também na sala oferecida aos profissionais pelo sindicato, outra velha máquina de escrever faz companhia aos terminais de computadores. De vez em quando, a gente precisa apelar à máquina", afirmou Farneze, que atua há 46 anos como despachante.
Segundo um executivo de empresa de bens de capital, os despachantes cobram em torno de 3% do valor FOB do produto que, nesse setor, custa facilmente mais de US$ 100 mil.
Um bom despachante é capaz de contornar erros no processo e de se movimentar pelos órgãos anuentes, de forma a reduzir os custos de armazenagem e a permitir a rápida liberação do produto. Mas há pouca certeza sobre todos os métodos por eles usados. "Eu nem pergunto o que o nosso despachante faz para liberar os componentes de máquinas que importamos. Nem quero saber." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.