Em seu primeiro discurso como presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff (PT)sinalizou algumas medidas econômicas que serão adotadas em seu governo, tais como o controle dos gastos públicos e o combate à especulação financeira.
Com as principais economias globais ainda sofrendo com a crise, a presidente afirma que medidas voltadas ao mercado interno ganham relevância. "Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas", afirmou a ex-ministra chefe da Casa Civil.
No entanto, ela ressaltou que não pretende fechar o Brasil para o exterior, mas que, por outro lado, é necessário estabelecer regras mais claras, como a limitação da alavancagem, de modo a reduzir a volatilidade das moedas e do mercado de capital. "Atuaremos firmemente nos fóruns internacionais com este objetivo", discursou Dilma.
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Outro ponto abordado pela candidata eleita no último domingo foi quanto ao controle dos gastos públicos, no entanto sem reajustes nos programas sociais. "Faremos todos os esforços pela melhoria de qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualificação dos serviços públicos", continuou a petista.
Por fim, a criação do Fundo do Pré-Sal também esteve presente no primeiro discurso de Dilma após eleita. "Teremos os recursos provenientes de nossas riquezas sempre com pensamento de longo prazo. Por isso trabalharei no Congresso pela aprovação do Fundo Social do Pré-Sal", afirmou Dilma.
Dilma deve sofrer com reformas
Dada como certeza no início da campanha, mas abalada pela reta final do primeiro turno, a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais traz a expectativa de manutenção das políticas de distribuição de renda e de crescimento econômico, mas dúvidas quanto à sustentação dos gastos públicos.
Repartida em muitas propostas isoladas, a ideia transmitida pela candidatura de Dilma Rousseff ao Planalto foi a de manter as linhas do governo Lula, como a manutenção do tripé metas de inflação, câmbio flutuante e equilíbrio fiscal, associada à busca por políticas de redistribuição de renda, investimentos em infraestrutura e o fortalecimento de estatais e grupos empresariais privados.
Por mais méritos pessoais que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha, muito do que há de "bendito" no legado para o próximo governo resulta de um processo de reconstrução institucional e econômica, iniciado ainda na década de 1990, em que PT e PSDB tiveram papéis preponderantes.
Entretanto, a base de apoio político ao Governo deverá ser formada principalmente pelo próprio PT – que possuirá a maior bancada na nova Câmara dos Deputados - e PMDB, conhecido por seu grande apetite por cargos públicos.
PCdoB, PR, PDT, PRB, PSC, PSB, PTC e PTN completam a provável base de apoio ao governo Dilma, que deverá angariar cerca de 73% das cadeiras na Câmara e 75% no Senado.
Com ampla maioria no parlamento e a força da vitória presidencial, seria possível projetar a concretização de reformas importantes, como a tributária, bem como promover um ajuste fiscal no início do mandato, para agradar aos mercados – medida que foi negada de modo veemente durante a campanha.
Contudo, mesmo que recebam prioridade na agenda do próximo governo, os projetos podem esbarrar no controverso resultado das eleições para o Congresso, que fortaleceu a posição de alguns partidos menores, bem como na sólida posição dos partidos de oposição no comando de bancadas estaduais.
Passada a definição nas urnas, o grupo político que apoia Dilma Rousseff travará dura disputa interna sobre a distribuição dos cargos importantes, como o controle de estatais e de ministérios.
Neste contexto, as principais variáveis serão o poder de barganha do PMDB – enfraquecido da Câmara, mas fortalecido no Senado – e do grupo petista que capitaneou a campanha de Dilma, formado por políticos como Antônio Palocci e José Eduardo Cardozo.
Trio de ferro
Amplamente identificado com a promoção de políticas macroeconômicas "pró-mercado", o ex-ministro da Fazenda Palocci terá dificuldades para impôr seus nomes junto ao primeiro escalão, em função das acusações de envolvimento no escândalo do "Mensalão" e de abuso de poder.
Certamente, a manutenção de figuras-chave do governo Lula também será debatida, como Henrique Meirelles e Luciano Coutinho, presidentes do Banco Central e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), respectivamente. Nem mesmo a manutenção de Guido Manteda na Fazenda pode ser descartada.
Ainda assim, "o mercado parece ter convergido para a visão de que o gabinete econômico será o de melhor cenário, composto por Palocci, Coutinho e Meirelles", afirmou o analista Emy Shayo Cherman, em relatório do banco de investimentos JPMorgan.
Em resumo, as expectativas são de baixa probabilidade de reformas – tributária, previdenciária ou trabalhista -, associada à manutenção das linhas macroeconômicas adotadas pelo governo Lula. Surpresas positivas podem decorrer de um limitado corte de gastos públicos, foco em investimentos e redução na relação entre dívida líquida e PIB (Produto Interno Bruto).
(Fonte: InfoMoney)