A histeria causada pelo pedido de moratória da principal empresa estatal de Dubai - a Dubai World - é compreensível, mas não se justifica de todo, dizem analistas consultados pela BBC Brasil em Frankfurt, sede da segunda maior bolsa de valores da Europa.
Folker Hellmeyer, economista-chefe do banco Bremer Landesbank, diz que os problemas da Dubai World, que constrói casas de luxo em uma península artificial, já eram conhecidos há tempos.
"Os problemas atuais se referem à falta de liquidez momentânea de alguns megaprojetos, e não à confiança em geral na potência econômica dos emirados", afirma Hellmeyer.
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O analista Heino Ruland, da Ruland Research, diz que Dubai desencadeou as perdas, mas que não foi a única causa. Segundo ele, o mercado já estava nervoso antes. "Os investidores estão mais cautelosos e conscientes dos problemas de crédito na praça."
Nervosismo
O fato de que as bolsas nos Estados Unidos estiveram fechadas por causa do feriado de Ação de Graças teria aumentado ainda mais o nervosismo na Europa. A notícia da moratória da estatal do emirado árabe chocou os analistas e provocou perdas nos maiores mercados de ações da Europa.
O principal motivo é o fato de que o emirado investiu grandes somas de dinheiro em empresas europeias, comprando grandes pacotes de ações nos últimos meses. A insegurança acabou afetando também empresas com acionistas de outros emirados árabes.
Entre as empresas com acionistas nos emirados estão as montadoras Volkswagen e Porsche, na Alemanha, os bancos Barclays e HSBC, na Grã-Bretanha, e UBS e Credit Suisse, na Suíça.
Outro problema é que Dubai tem grandes dívidas com os principais bancos europeus. Segundo o Credit Suisse, esse montante giraria em torno de US$ 40 bilhões.
"O mercado foi pego de surpresa, pois esperava o pagamento pontual de US$ 3,5 milhões", diz o analista de ações Eckhart Woertz, do Centro de Pesquisas do Golfo. Isso abalou a confiança nos investidores do Golfo Pérsico.
Em várias ocasiões, os xeques dos emirados árabes foram vistos como os salvadores de empresas europeias, investindo e comprando ações em meio à crise financeira mundial.
Investidores do emirado compraram, por exemplo, um pacote com 9,1% das ações da montadora alemã Daimler meses atrás, quando a empresa precisava urgentemente de capital. Agora, "o conto das mil e uma noites acabou", segundo a versão alemã do jornal Financial Times.