A empresa de telefonia francesa France Télécom vive uma onda de suicídios de seus funcionários. Nos últimos 18 meses, 22 empregados da operadora se mataram, seis deles apenas nos últimos dois meses.
Nesta quarta-feira, um funcionário de 50 anos se esfaqueou na barriga durante uma reunião de trabalho em Troyes, no noroeste da França.
O empregado, identificado como Lionel, foi informado de que sua vaga havia sido cortada e que ele passaria a realizar uma outra atividade na empresa, o que o funcionário considerou como um rebaixamento do cargo. Lionel foi transferido de urgência para um hospital e não corre risco de morte. Ele trabalha há 30 anos na France Télécom.
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Mudança
Segundo sindicalistas, Lionel fazia manutenção dos serviços telefônicos em empresas clientes da operadora. Ele soube, durante a reunião, que passaria a fazer consertos em residências de assinantes. Também segundo os sindicatos, ele havia sido informado de que "as vagas disponíveis existiam apenas a centenas de quilômetros da área onde ele trabalha".
A direção da France Télécom informou que o empregado "trabalhava no setor de intervenção nas empresas, cujo volume de atividade diminuiu". Segundo a operadora de telefonia, "a transferência do funcionário prevê que ele trabalhe na mesma cidade, na mesma atividade (de manutenção), no mesmo local".
Estresse
Os sindicatos acusam a direção da France Télécom de não levar em conta a grande preocupação dos trabalhadores provocada pelo atual processo de reestruturação da companhia.
A direção da empresa, em Paris, vai se reunir na quinta-feira com representantes dos trabalhadores e deverá anunciar medidas para prevenir o estresse no trabalho.
Os sindicatos anunciaram, também na quinta-feira, uma jornada de mobilização, com pré-aviso de greve, para protestar contra os suicídios.
Os sindicatos denunciam uma "deterioração das condições de trabalho" na France Télécom, causada pela eliminação de postos de trabalho, reestruturações, transferências obrigatórias de trabalhadores para outras localidades sem possibilidade de recorrer da decisão, além de pressões cada vez maiores para aumentar a rentabilidade da companhia.
"Direção do terror"
Um funcionário da empresa, que se suicidou no dia 14 de julho, em Marselha, no sul da França, havia justificado sua decisão em uma carta, alegando graves problemas no trabalho.
"Eu me suicido por causa do meu trabalho na France Télécom. É a única razão. A desorganização total da empresa me deixou totalmente perturbado. Eu me tornei um destroço. É melhor acabar com tudo", dizia o empregado na carta.
Ele também denunciou no texto a sobrecarga de trabalho e a "direção de terror" da empresa.
Vários suicídios também já ocorreram, entre 2006 e 2007, nas montadoras Renault e Peugeot, quando os empregados se suicidaram no próprio local de trabalho.
A France Télécom, privatizada em 2004, emprega cerca de 187 mil pessoas no mundo.