Uma pequena empresa britânica anunciou ter desenvolvido uma tecnologia que, na visão de seus entusiastas, poderia ajudar a amenizar de uma só vez a crise energética provocada pelos altos preços do petróleo e o problema do aquecimento global.
Segundo a Air Fuel Synthesis, com sede no norte da Grã-Bretanha, seus cientistas e pesquisadores conseguiram produzir combustível a partir de ar e água. Mais precisamente, a partir de hidrogênio extraído de vapor d'água e gás carbônico - substância que costuma ser responsabilizada pelas mudanças climáticas.
Bom demais para ser verdade?
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A novidade atraiu a atenção da imprensa britânica, principalmente depois de ter sido respaldada pela sociedade de engenheiros Institution of Mechanical Engineers, de Londres.
"Cientistas transformaram ar em combustível", anunciou o jornal Independent em sua manchete de hoje. Citando especialistas britânicos, o Daily Telegraph classificou a descoberta como "revolucionária". Para o tabloide Daily Mail, ela "promete resolver a crise energética global."
A tecnologia envolvida nesse processo não é inteiramente nova. Ela já vinha sendo pesquisada por laboratórios de diversos países, entre eles o Centro de Tecnologia Industrial Tokushima, no Japão, e o Centro de Estudos de Materiais Freiburg, na Alemanha.
Basicamente, consiste em extrair dióxido de carbono do ar e hidrogênio do vapor d'água (por eletrólise) e, em seguida, combinar as duas substâncias em uma câmera de alta temperatura. O processo produz metanol, que é então processado para virar combustível.
Entusiastas e céticos
Os resultados da Air Fuel Synthesis, porém, chamaram a atenção porque a empresa conseguiu criar um pequeno protótipo de refinaria no qual a produção é feita de forma constante. E, com isso, produziu desde agosto cinco litros de combustível.
Agora, ela está começando a construir uma instalação maior com a intenção de produzir, em dois anos, uma tonelada dessa gasolina por dia. E segundo o diretor da empresa, Peter Harrison, a ideia é erguer, em até 15 anos uma refinaria em escala comercial. "Podemos mudar a economia de um país permitindo que ele produza seu próprio combustível", explicou Harrisson ao Independent o diretor da Air Fuel Synthesis.
Mas nem todos estão tão entusiasmados com a iniciativa. O engenheiro químico e especialista em energia limpa Paul Fennell, do Imperial College London, é um dos céticos.
Ele explica que, para levar adiante o processo de produção de combustível a partir de dióxido de carbono e vapor d'água é preciso gastar uma grande quantidade de energia elétrica. "Trata-se de um processo custoso e que não compensa esse gasto de energia", opinou Fennell em entrevista à BBC Brasil.
Para ele, faria mais sentido, do ponto de vista de eficiência energética, usar a energia elétrica diretamente - e apostar no desenvolvimento de outras formas de transporte movidas a eletricidade.
"A ideia de desenvolver uma nova técnica para criar combustível líquido à primeira vista é muito atraente porque não exige uma mudança das estruturas e sistemas de transporte usados hoje", afirma Fennel. "Mas isso não quer dizer que essa opção seja a mais eficiente nem a mais limpa - afinal, quando o novo combustível é queimado os poluentes voltam para a atmosfera."
Segundo Harrison, o objetivo da empresa por enquanto não é ampliar a eficiência do processo de produção de combustível a partir de dióxido de carbono, mas provar um princípio. "Queremos mostrar que aqui na Grã-Bretanha é possível produzir petróleo a partir de ar", disse. "Esses processos são capazes de funcionar em escala industrial. Mas teremos trabalho para desenvolver as cadeias de suprimento e reduzir os custos", admitiu.