O aumento da taxa básica de juros, anunciado hoje pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, não se justifica, segundo avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). "A decisão superestima a alta da inflação, que permanece dentro da meta, e pode ter efeitos negativos mais permanentes sobre a produção", afirmou o presidente entidade, Armando Monteiro Neto, segundo nota distribuída pela CNI.
A avaliação de Monteiro Neto é de que o aumento de 0,75 ponto porcentual da taxa Selic, para 9,5% ao ano, terá efeito limitado no controle das atuais pressões inflacionárias, que são provocadas pelos preços dos alimentos. "A elevação dos juros não surtirá efeito nesse componente, porque os aumentos desses preços se devem a fatores externos", disse.
Ele lembrou ainda que a indústria não tem contribuído para as pressões inflacionárias. Segundo ele, o setor está ocupando gradualmente a margem de ociosidade criada com a crise econômica. "O aumento do uso da capacidade é salutar e essencial para alavancar os investimentos na indústria, o que já vem ocorrendo".
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Para Monteiro Neto, o país precisa criar condições para que o ciclo de elevação dos juros, iniciado hoje, seja o mais breve e o menos intenso possível. "É imprescindível coordenar as políticas monetária e fiscal, de forma a enquadrar a meta de inflação sem maiores danos ao setor produtivo e ao investimento privado", disse.
Fiesp
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou nota criticando a decisão do Copom. Para a Fiesp, o BC agiu pressionado pelo mercado financeiro. "A pressão que vem sendo exercida sobre o BC, por parte dos interessados no aumento da taxa Selic, atingiu níveis ainda não conhecidos na sua atual gestão", diz a nota. "Até a competência e a autonomia dessa respeitada instituição correm o risco de ser colocadas em dúvida."
A entidade avalia que não houve surpresa no aumento de 0,75 ponto porcentual, pois na ata da reunião anterior o Copom já constava a unânime "necessidade" de elevar a taxa básica de juros na reunião marcada para hoje. "E a promessa foi cumprida. A partir daí, pouca dúvida resta para a ação de um BC acuado, refém de certos setores do mercado e cada vez mais distante dos interesses maiores da sociedade e do País."
Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a elevação dos juros era desnecessária. "Existe capacidade instalada na indústria para atender à demanda sem que aconteça pressão sobre os preços", alegou. "Lamentamos, profundamente, que a produção, o crescimento e o emprego, mais uma vez, sejam os perdedores."
Força Sindical
O presidente da Força Sindical, deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, avaliou como "equivocada" e "perversa" a decisão do Copom. De acordo com ele, o BC age com "miopia econômica" em sua decisão. "Os membros do Copom insistem em levar o Brasil na contramão do desenvolvimento, usando um método nefasto para conter supostas pressões inflacionárias", criticou.
O presidente da Força Sindical acusou as autoridades monetárias de terem se transformado em "meros aduladores dos especuladores". Segundo Paulinho, o Copom "frustra os trabalhadores" e "pune a produção". "É lamentável que estejamos virando um paraíso para os especuladores do mundo inteiro, diante da elevada lucratividade paga pela exorbitante taxa de juros do Brasil", afirmou.