Se o Brasil se confirmar como um dos principais países produtores de petróleo do mundo, sofrerá com a falta de mão de obra especializada. A avaliação é de Paulo Pontes, presidente da unidade brasileira da Michael Page, empresa inglesa especializada em recrutamento de executivos para cargos de média e alta gerência. Segundo ele, essa carência deverá estar suprida daqui a dez anos, pois várias faculdades estão se especializando na formação de profissionais para o setor de óleo e gás. "Mas hoje não existe mão de obra específica para algumas áreas, como o pré-sal".
Pontes diz que o maior déficit é de engenheiros e geofísicos, principalmente profissionais que exerçam funções técnicas de maquinário, para lidar com ferramentas específicas do setor de óleo e gás. "Esse é um setor da economia que teve um crescimento muito rápido e vem passando por uma grande transformação nos últimos dez anos. Tivemos as descobertas no Brasil de plataformas de óleo e gás, e a chegada de empresas no mercado em uma concentração muito grande nos últimos cinco anos. E aí começamos a perceber que, para determinadas vagas e perfis, havia escassez de mão de obra", disse Pontes.
Esse não é um problema exclusivo do Brasil. Para o executivo, outros países produtores de petróleo também sentem falta de especialistas. "Todo mundo pede esse profissional e, se ele for competente, vai ter opção de expatriação, de carreira internacional".
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Por causa da falta de profissionais especializados, a remuneração para quem atua nessas áreas está alta, de acordo com Pontes. Para geofísicos, por exemplo, que fazem análises dos processos exploratórios, o salário chega a ser de R$ 30 mil. Os engenheiros recém-formados que quiserem atuar na área de petróleo e gás podem conseguir salários de até R$ 7 mil.
No Brasil, cerca de 30 mil engenheiros saem das universidades por ano. Na Coreia do Sul, este número chega a 80 mil. Na China são 400 mil engenheiros por ano e na Índia 250 mil.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) feito no início deste ano mostrou que o país não tem número suficiente de engenheiros para dar conta dos novos postos que devem surgir com o crescimento econômico. Segundo a pesquisa, de cada sete engenheiros formados no Brasil, apenas dois estão formalmente empregados em funções típicas da profissão. Não basta, portanto, ter o diploma. É preciso especialização ou experiência na área. O Ipea também estimou que a exploração da camada de pré-sal deverá aumentar a demanda do país por profissionais especializados, como engenheiros e geólogos.
Para tentar suprir a necessidade de engenheiros no país, a Federação Nacional de Engenheiros (FNE) lançou uma campanha para despertar o interesse de estudantes do ensino médio pela carreira. A campanha inclui vídeos e palestras sobre as áreas de atuação da profissão e as oportunidades no mercado de trabalho.