Em meio à correria geralmente registrada nos shoppings e comércios de rua às vésperas do Dia das Crianças, alguns pais e mães têm optado por cultivar junto aos filhos hábitos diferentes. Inspirados por iniciativas como o projeto "Criança e Consumo", da ONG Instituto Alana, que busca ampliar a conscientização da população sobre o consumismo na infância, eles apostam nas feiras de trocas de brinquedos para exercitar a convivência e, principalmente, o conceito de reutilização.
"Não é porque é ‘dia disso’ ou ‘dia daquilo’ que precisamos comprar um monte de coisa. Eles (filhos) acabam enjoando fácil; brincam um ou dois dias no máximo e já querem novidades... Muitos pais ficam endividados com o que a criança vê na TV e pede. E, às vezes, os pequenos brincam mais com as caixas e com os tecidos, ou com o controle remoto da TV, do que com aquela coisa cara e absurda", opina a professora de dança Danielle Berbel, de Curitiba.
Mãe de Manoela (seis) e Miguel (um ano e quatro meses), ela diz que aderiu à proposta de forma quase que espontânea. "Eu sempre participei (de iniciativas assim), mesmo que não oficialmente. Quando fiquei grávida, a filha da minha prima tinha acabado de nascer e me passava tudo. Depois, minha irmã engravidou e eu também comecei a passar tudo para ela. A gente vai trocando roupa, brinquedo, livros...", conta.
Leia mais:
Um terço das famílias brasileiras sobreviveu com renda de até R$ 500 por mês em 2021, mostra FGV
Taxa de desemprego no Brasil cai para 9,8%, segundo IBGE
Termina nesta terça o prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda
Número de inadimplentes de Londrina cai 14% em abril, segundo dados do SPC
A ideia de reutilizar foi o que também levou a fisioterapeuta Gabriela Forte, mãe de Eduarda (três anos), a participar pela primeira vez de uma feira de trocas, no ano passado, na capital paranaense. "Eu acho muito útil porque você não está pagando nada e para a criança é como se o brinquedo fosse novo. Quando fiquei sabendo achei legal, para mostrar que nem sempre é preciso comprar. E ela (Eduarda) adorou", diz.
De acordo com a coordenadora de Mobilização do Alana, Gabriela Vuolo, a proposta das feiras surgiu em 2011, em São Paulo, e no ano passado foi ampliada para todo o Brasil, com a realização de mais de 50 eventos. Neste ano, a ideia é que os próprios pais ou responsáveis organizem os encontros, de preferência no Dia das Crianças, simultaneamente.
Para isso, a organização disponibilizou um guia passo a passo e materiais de divulgação na página mobilizacao.alana.org.br. Lá, é possível encontrar um mapa com eventos já agendados. "É um momento muito bacana de socialização entre as crianças, de trabalhar a questão do desapego, a coisa de que o brincar não necessariamente depende do brinquedo. E ainda que precise, não precisa ser um novo, comprado", explica.
No Paraná, há três feiras programadas, todas em Curitiba. No dia 11, acontece a "Gaia – Eu troco e você?", a partir das 14h, na Rua Euclides da Cunha, 874. E no dia 12, estão agendados dois eventos: um na Casa Gomm (Rua Bruno Filgueira, 850), das 9 às 12h, e um na sede da FasTracKids Batel (Rua Teixeira Coelho, 290 - Loja 3), às 10h. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas com no mínimo 24 horas de antecedência.
Segundo a diretora da FasTracKids, Ângela Cristina Rodrigues, quem participar da feira na unidade irá ganhar uma aula gratuita do método educacional, cujo objetivo é aflorar o desenvolvimento cognitivo infantil e o prazer por aprender.
Gabriela Vuolo convida os pais e mães de Londrina a também organizarem suas feiras. "Não precisa de muito tempo, porque podem ser eventos pequenos, no próprio prédio ou até na escola. O trabalho está mais relacionado àquilo que você quer".
Há quase 12 anos, projeto busca regular publicidade na infância
Desde 2001, o Projeto de Lei (PL) nº. 5.921, em tramitação na Câmara dos Deputados, busca regular a publicidade infantil no Brasil. De autoria do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), o PL acrescenta um parágrafo ao artigo 37, da Lei nº 8.078/1990, que dispõe sobre a proteção do consumidor, de forma a proibir a propaganda para venda de produtos voltados a crianças.
Na última semana, a proposta foi aprovada em sessão ordinária da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) e agora deve seguir para apreciação da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
"A gente espera que finalmente aconteça a aprovação. Hoje, se você pegar uma criança que nasceu junto ao projeto de lei, ela já não é mais criança; é adolescente", critica a coordenadora de Mobilização do Instituto Alana, Gabriela Vuolo.
Segundo ela, atualmente existe uma verdadeira "avalanche", um "bombardeio" direcionado às crianças, que acabam sofrendo o impacto do consumo excessivo. "A publicidade não está só na televisão; está na internet, nos joguinhos, no supermercado. É praticamente impossível deixar a criança completamente isolada. Por isso que a gente diz que é preciso existir uma legislação que regule e coloque limites", argumenta.