Curitiba possui o maior porcentual de famílias endividadas entre todas as capitais brasileiras. Na cidade, 88% do total das famílias têm dívidas. O valor da dívida média mensal é de R$ 1.608 - correspondente a um comprometimento de 27% da renda das famílias. Porto Alegre é a capital em que foi constatado o maior valor de endividamento médio mensal, com R$ 2.145, o que corresponde ao comprometimento de 30% da renda. Já a capital onde as famílias destinam a maior parcela da renda mensal ao pagamento de dívidas é Natal, com 39% do orçamento - o equivalente a uma dívida média mensal de R$ 1.531.
Estas são algumas das constatações do estudo "Radiografia do Endividamento das Famílias nas Capitais Brasileiras", feito pela Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP) entre os meses de janeiro e maio. De acordo com o economista da entidade, Altamiro Carvalho, embora de forma geral as famílias brasileiras tenham um perfil conservador em termos de endividamento, algumas capitais apresentaram um grau de endividamento muito acima da média.
"Temos alguns sinais de alerta. Em Curitiba, por exemplo, o aumento real da dívida das famílias, de janeiro a maio do ano passado para o mesmo período deste ano, foi de 59%. Em Natal, o aumento foi de 39%, contra uma média de 24% entre todas as capitais. Em Porto Alegre, a dívida média mensal das famílias foi de R$ 2.145, contra uma média nacional de R$ 1.527", afirmou. "Pode ser algo pontual, passageiro, mas também pode ser algo crônico."
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Na avaliação de Carvalho, nessas três capitais, qualquer problema que ocorra em termos de renda e emprego pode ser preocupante. "Mas, de forma geral, as famílias brasileiras mostram, em média, um cuidado na administração de crédito, tomando as medidas necessárias para manter o orçamento, o que afasta as teorias catastrofistas de um subprime da inadimplência", afirmou. "Isso só ocorreria se houvesse algo muito grave que viesse a comprometer a renda e o emprego, o que não é o caso até o momento. Se esses indicadores ficarem estáveis e a taxa de desemprego continuar baixa, a possibilidade de ocorrer alguma coisa grave com a inadimplência é pequena."
De acordo com a Fecomercio-SP, o total mensal estimado da dívida das famílias nas capitais passou de R$ 10,9 bilhões de janeiro a maio de 2010 para R$ 13,5 bilhões no mesmo período deste ano, valor que corresponde, em termos aproximados, ao orçamento anual do Bolsa Família, segundo a entidade. O valor médio mensal de dívida por família passou de R$ 1.298 de janeiro a maio de 2010 para R$ 1.527 no mesmo período deste ano, considerando a inflação no período. Segundo a entidade, considerando a taxa média de juros nos empréstimos, de 43% ao ano, é possível afirmar que, desses R$ 13,5 bilhões, R$ 5,8 bilhões correspondem exclusivamente ao custo dos empréstimos.
Para fazer o estudo, a Fecomercio-SP utilizou dados do IBGE como Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), contagem populacional, Pesquisa Mensal de Emprego (PME), Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) e taxas mensais de endividamento e comprometimento da renda constantes da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Os valores foram trazidos a preços de maio para viabilizar a comparação.
Na avaliação de Carvalho, o estudo mostra que o crédito puxou o crescimento robusto das vendas do comércio no ano passado e foi responsável por sua manutenção nos dois primeiros meses deste ano. A partir de março, porém, a entidade constatou forte desaceleração do consumo, devido às medidas macroprudenciais adotadas pelo governo, responsáveis pelo aumento das dívidas das famílias nos cinco primeiros meses deste ano. "Entre dezembro e abril, os juros subiram 6,2 pontos porcentuais, o que fez com que as dívidas aumentassem R$ 5,2 bilhões."
Mas, segundo ele, apesar do crescimento da participação do crédito, o nível de comprometimento médio da renda mensal das famílias com dívidas permaneceu em 29% de janeiro a maio deste ano, o que é considerado um índice saudável. "Um número acima de 50% apontaria algum risco. Nos Estados Unidos, por exemplo, a média fica entre 70% e 80%", afirmou. Esse fator, avalia Carvalho, aliado ao sistema de proteção adotado pelos bancos na concessão do crédito e às taxas de juros cobradas, faz com que o sistema financeiro, na avaliação da Fecomercio-SP, torne-se "praticamente imune" a uma eventual elevação da inadimplência.