Depois da tempestade provocada pela crise mundial, os indicadores macroeconômicos sustentam que o Brasil deverá voar em céu de brigadeiro em 2010, turbinado pelo crescimento esperado de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse panorama alimenta as melhores expectativas em relação ao mercado de trabalho e o próprio governo federal injetou ainda mais gasolina ao estimar que neste ano deverão ser criados 2 milhões de postos de trabalho. Mas em meio a tanta euforia algumas vozes especializadas alertam que o país Poderá ter um ''apagão'' por causa da carência de gente qualificada e avisam que a garantia de emprego com carteira assinada não abrange todos os desempregados.
Neste início de janeiro, as 252 agências do Trabalhador em todo o Estado bateram o recorde histórico ao atingirem a marca de quase 16 mil vagas ofertadas em um só dia, comemora a coordenadora de intermediação de mão de obra da Secretaria de Estado de Trabalho, Emprego e Promoção Social (SETP), Ângela Carstens. E esse patamar tem se mantido acima de 15 mil desde então. Só que há um porém: a média de preenchimento varia entre 48% e 52%. ''Ocorre que muitas vagas exigem qualificação mais alta e específica e algumas outras têm salários pouco atrativos'', comenta.
Carstens confirma que o mercado de trabalho está superaquecido e que, se o crescimento econômico se confirmar no patamar anunciado pelo governo, inclusive a mão de obra jovem terá mais garantias de ser absorvida. Ela indica que os setores mais atrativos são a indústria e a agroindústria, construção civil, comércio e serviços. Mas a coordenadora adverte que quem tem baixa escolaridade e pouca qualificação técnica deve encontrar dificuldades para conquistar uma vaga.
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Apagão de gente boa
''Creio que o mercado vai sofrer uma espécie de apagão de gente boa, talentosa, preparada. Cada vez mais, percebemos um contingente de gente sem trabalho mas com baixa qualificação e não falta só preparo técnico mas carência de postura, de jeito de ser, de compromissos e atitudes'', analisa o diretor da Capital Humano, José Carlos Silva Damasceno. O resultado é que para cada vaga aberta em sua agência pelo menos dez candidatos são entrevistados. ''O profissional com qualificações técnicas e comportamentais ganha mais. Os demais ficam na média baixa e com risco de perder o emprego se surgir alguém mais qualificado'', complementa.
A docente do Departamento de Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ana Paula Mussi Cherobim, avalia que crescimento econômico pode até elevar a oferta de vagas mas isso não tem relação direta com mais vagas de emprego. Ela lembra que a crise extinguiu milhares de postos de trabalho e que agora, mesmo diante da recuperação da economia, não serão disponibilizadas novamente em sua totalidade. ''Muitos dos empregos perdidos no final de 2008 não foram e não serão retomados. Os índices de crescimento são considerados em função do mês anterior mas o segundo semestre do ano passado foi muito ruim. Por isso, o segundo semestre de 2009 fica bonito na projeção'', argumenta. Ela frisa que é preciso considerar também que há diferenças regionais, com algumas regiões crescendo mais que outras.
Mesmo assim, Ana Paula vislumbra que 2010 tem tudo para ser o ano da retomada do emprego e aposta no setor de serviços como um dos grandes captadores de mão de obra. As áreas de call center e toda a rede de turismo, segundo ela, devem concentrar boa parte das oportunidades.