O aumento dos preços dos alimentos no mercado internacional, nos últimos seis meses, fez com que os valores no mercado doméstico também subissem, provocando reajustes em outros segmentos de comércio e serviços. Isso porque "a indexação ainda é um traço cultural muito forte no Brasil", de acordo com o diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Carlos Hamilton Araújo.
A alta dos preços prejudica toda a sociedade, mas, quando se trata de alimentos, especificamente, os mais prejudicados são os mais pobres, porque a alimentação tem maior peso na composição dos seus gastos. Isso é mostrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que calcula o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), para famílias com renda de até oito salários mínimos, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para aquelas que recebem até 40 salários.
Dos sete conjuntos de preços que compõem os dois índices do IBGE, o item alimentos é o que tem maior peso em ambos: de 33,10% no INPC e de 25,21% no IPCA. Em função disso, o IPCA – índice que serve de parâmetro para as correções oficiais – acumulou inflação de 6,01% nos 12 meses terminados em fevereiro, enquanto a inflação pelo INPC no mesmo período foi de 6,36%, apesar de os preços dos alimentos terem tido menor variação em fevereiro, comparado aos meses imediatamente anteriores.
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As famílias de menor poder aquisitivo também são mais prejudicadas em mais dois itens de primeira necessidade, coletados pelo IBGE: habitação e vestuário. Os mais pobres, que não têm casa própria, pagam aluguel indexado ao Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que tem variado em torno de 11% ao ano. As roupas também têm peso no orçamento dessas famílias. A habitação tem peso de 12,53% no INPC e de 10,91% no IPCA, enquanto vestuário pesa 13,16% e 12,49%, respectivamente.
De acordo com coleta de preços nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Goiânia, o IBGE verifica que os brasileiros com melhor situação financeira gastam mais com transportes e comunicação (18,77% na composição do IPCA e 11,44% no INPC, respectivamente), despesas pessoais (15,68% e 13,36%) e saúde e cuidados pessoais (8,85% contra 7,56%). Artigos de residência são o único item de preços com peso igual nas duas medições de inflação, com equivalência de 8,09%.