As vendas no setor supermercadista brasileiro vêm crescendo abaixo da média dos últimos anos e ainda podem continuar sofrendo no segundo semestre deste ano, avalia a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Inflação elevada e queda no rendimento médio real de trabalhadores em setores como a indústria são preocupações, diz o presidente do Conselho Consultivo da entidade, Sussumu Honda.
A Abras apurou que, de janeiro a maio, as vendas tiveram alta real de 0,59%. Nos mesmos cinco meses de 2014 o crescimento havia sido de 1,62% e, em 2013, o ritmo de expansão nestes meses chegava a 2,17%.
Embora a segunda metade do ano tradicionalmente seja mais aquecida para o comércio, Honda considera que este ano é mais difícil falar em aceleração do crescimento. Por comporem um setor que vende itens de necessidade básica, supermercados têm crescimento muito associado ao ritmo de expansão de emprego e renda. Inflação e menor geração de emprego, portanto, são vistas como explicações para o desempenho fraco.
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"Vemos um cenário de inflação persistente e que trabalhadores começam a conquistar uma recomposição menor do poder aquisitivo ante salários", diz Honda. O fechamento de convenções coletivas de importantes classes trabalhadoras em setembro ou outubro é tradicionalmente visto como um momento bom para as vendas, mas este ano o executivo pondera que há maiores chances de os acordos coletivos trazerem perdas reais para os salários.
A Abras ainda não atualizou suas projeções de crescimento para 2015. Em janeiro, a entidade havia projetado 2% de crescimento real no ano, mas Honda afirma que hoje esse número já é "muito difícil de ser alcançado". A entidade deve revisar para baixo a projeção no próximo mês, diz.
Uma das razões para a as estimativas feitas no início do ano terem sido frustradas, diz Honda, é que em janeiro não se tinha a expectativa de que a inflação seria tão persistente em 2015.
"Imaginava-se que haveria um pico momentâneo nos preços em razão da alta dos combustíveis, por exemplo, mas agora vemos outros fatores como a alta do dólar e da energia se espalhando em forma de custos pelas cadeias produtivas", comentou.
Apesar do cenário mais pessimista, Honda afirma que o setor supermercadista não vive um momento de demissões. Na avaliação dele, o setor conviveu por muito tempo com carência de mão de obra especializada e o que se vive agora é uma estabilização na geração de emprego.
Sobre investimentos, ele pondera que algumas companhias varejistas têm revisto projetos para novas lojas. Apesar disso, considera que ainda há redes que estão em processo de expansão porque têm planos de entrada em novos mercados.