A designer de joias Pippa Small diz que seu trabalho é um pouco parecido com o de Robin Hood.
Mas em vez de usar arco e flecha para tirar dos ricos e dar aos pobres, ela utiliza o dinheiro de clientes abastados de seu caro ateliê para ajudar algumas das comunidades mais necessitadas do mundo.
Sua joalheria em Londres vende peças cujos preços podem atingir 70 mil libras (R$ 217mil). Alguns dos clientes são grifes conhecidas como Gucci, Chloe e Nicole Farhi.
Pippa participa de eventos de moda em diversas partes do mundo e suas criações são usadas por celebridades como Nicole Kidman. Mas, em contraste com esse mundo de brilho e de glamour, ela também transita em uma realidade completamente diferente.
Leia mais:
Um terço das famílias brasileiras sobreviveu com renda de até R$ 500 por mês em 2021, mostra FGV
Taxa de desemprego no Brasil cai para 9,8%, segundo IBGE
Termina nesta terça o prazo para entrega da declaração do Imposto de Renda
Número de inadimplentes de Londrina cai 14% em abril, segundo dados do SPC
"Logo que eu comecei meu negócio há 10 anos, passei um verão trabalhando com refugiados birmaneses na Tailândia. Eles tinham histórias e testemunhos horríveis", afirma.
"E eu me lembro que voltei para a Europa, a fim de participar da semana de moda de Paris, e fiquei muda por causa do contraste das duas situações. Eu simplesmente não conseguia conciliar as duas realidades completamente diferentes".
Direitos Humanos
Apesar de fazer joias como um hobby desde criança, Pippa, de 44 anos, diz que não tinha intenção de fazer disso seu trabalho.
"Eu estudei antropologia na Universidade de Londres e acabei trabalhando com direitos humanos. Lidei com minorias tribais no sudeste da Ásia (Bornéu e Tailândia) e também com questões agrárias e culturais – ou seja, nada a ver com joalheria".
"Mas eu continuava fazendo algumas peças e recebendo pedidos".
Pippa decidiu se dedicar integralmente à produção de joias quando foi convidada para trabalhar com Tom Ford, o diretor de criação da Gucci.
Mas ela diz que desde o primeiro dia de trabalho estava determinada a usar a joalheria para ajudar as comunidades necessitadas que havia conhecido quando trabalhava como ativista.
"Eu fui convidada para criar algumas coleções para a Gucci, o que foi ótimo. Com isso consegui ganhar uma boa quantidade de dinheiro".
"Com esses recursos consegui fazer meu primeiro projeto no Quênia, para ajudar comunidades locais a produzir joias inspiradas nas minhas criações, para serem vendidas aos turistas".
Hoje em dia, 70% das joias de Pippa são produzidas na Índia, "a capital mundial do ouro". Ela afirmou que a maior parte de seus lucros é investida em coleções especiais - feitas em ateliês em países como Afeganistão, Quênia, Panamá e Bolívia, com materiais característicos desses países.
Pippa afirma que consegue manter um negócio lucrativo e um bom estilo de vida. Mas diz também que paga gratificações de 10% sobre preços de matérias primas e de serviços para garantir que não haja irregularidades ou abusos durante os processos de obtenção das pedras preciosas e de contratação de mão de obra.
Na Bolívia ela diz que suas joias são feitas de ouro produzido por uma cooperativa de mineiros. Eles teriam sua produção certificada pela organização internacional Fairtrade, por respeitar padrões de preservação da natureza.
Em Nairobi, a matéria prima usada na confecção das peças seria vidro e pedaços de metal reciclado retirados de um lixão.
Ajuda
"Eu sei que apenas podemos ajudar algumas pessoas, mas é impressionante ver a diferença que isso faz na vida delas – é uma questão de fazer essas pessoas se sentirem confiantes em suas habilidades e contribuir com isso".
"Depois de alguns anos, muitos dos que treinamos deixam o projeto para tocar seus próprios negócios", diz.
Com duas lojas, uma em Londres e outra em Los Angeles, Pippa planeja continuar tanto com seus negócios como os projetos sociais. Ela diz porém que vem recebendo críticas.
"Algumas pessoas dizem: 'então o que você faz é produzir joias com mão de obra muito barata'. Esse realmente não é o caso. Se eu quisesse baixo custo poderia ir à China".
"Ao invés disso acho muito importante que minhas coleções sejam inclusivas, genuinamente colaborativas. Têm que ser ainda sustentáveis para funcionar e asseguro que todos estão sendo pagos adequadamente".
Afeganistão
No Afeganistão, Pippa trabalha com uma organização beneficente chamada Turquoise Montain, que treina artesãos para fazer joalheria afegã tradicional.
"Há 20 pessoas no ateliê de Cabul, incluindo oito homens. Eles ficam em uma sala separada das mulheres".
Por causa de problemas de segurança no Afeganistão, as joias produzidas no local não são de ouro maciço. Elas são feitas de prata ou apenas folheadas a ouro.
Pippa passa metade do ano viajando. O clima de insegurança não a impede de visitar o ateliê de Cabul ao menos duas vezes por ano.
"Eu estive em Cabul muitas vezes quando havia explosões de bombas", diz.
"Os rumores de que estrangeiros estão sendo feitos de alvo é alarmante. Mas também me sinto assim quando esse tipo de coisa acontece aqui (na Grã-Bretanha), por isso continuo com a minha vida".
"Eu não tenho guarda-costas".