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Justiça interdita usina no Norte Pioneiro

Erika Zanon/Redação Bonde
09 jun 2010 às 08:21

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Em 2009, chuvas e preços baixos do etanol contribuíram para os problemas enfrentados pelo setor sucroalcooleiro agravando crises em algumas empresas
Há quase um mês a Usina Casquel, que produz açúcar e álcool, instalada em Cambará no norte pioneiro do Estado, está sob a tutela de um interventor nomeado pela justiça e há mais de 20 dias suspendeu as atividades. A intervenção é parcial e visa à fiscalização do setor produtivo.

Agora, funcionários e credores, pleiteiam a intervenção total para que a empresa não pare de funcionar de vez. A usina vem passando por inúmeros problemas há meses e desde dezembro começou a atrasar salários, pagamentos de fornecedores e a entrega de encomendas previamente pagas. Ninguém sabe ao certo o montante da dívida, mas alguns envolvidos apontam que o volume chegue a R$ 100 milhões.

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Nos últimos meses, outras indústrias do setor no Paraná apresentaram problemas, entre elas a Corol Cooperativa Agroindustrial, com sede em Rolândia, e a Cofercatu, instalada em Florestópolis, como foi noticiado pela FOLHA. A Cofercatu acabou sendo adquirida pelo grupo Alto Alegre, de São Paulo. E a Corol busca recuperação por meio da fusão com a Cocamar. São casos pontuais ou o segmento tem passado por dificuldades?

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No caso da Casquel, só os passivos trabalhistas ultrapassam os R$ 5 milhões. Mais de 750 funcionários entram no terceiro mês sem receber os salários. Na semana passada, o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Fabricação de Açúcar e Álcool de Jacarezinho e Região, conseguiu junto à Justiça do Trabalho a liberação do FGTS e Seguro Desemprego do empregados. Mas antes, o sindicato havia conseguido 'bloquear' a venda de parte do álcool que havia na unidade e vender o produto para dividir entre eles.

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Produtores de cana que entregaram a matéria-prima mas não foram pagos e distribuidores que compraram, pagaram e não receberam o produto da Casquel também entraram na justiça pelo seus direitos. O advogado Laércio Alcântara, que defende um grupo de produtores e distribuidores, afirma que a dívida da empresa com eles chega a R$ 5 milhões - o que equivalia a 8 milhões de litros de álcool quando o problema começou em dezembro passado.


Tanto o grupo de credores quanto o de trabalhadores ingressaram na justiça com um pedido para que a intervenção seja total e em caráter urgente, para evitar possível sucateamento da empresa e para que a mesma volte a funcionar. ''Tem produtor que tem cana mas não tem para onde entregar e tem distribuidor que precisa de produto mas tem onde comprar'', observa Alcântara, frisando que se a empresa continuasse funcionando seria uma forma de amenizar o problema. Mas, na opinião dele, teria que ser sob a atuação de um interventor pois a empresa tem uma série de dificuldades na setor administrativo.

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Na outra ponta, o sindicato dos trabalhadores também teme que a empresa não volte a funcionar e que mais de 700 pessoas percam seus empregos. ''Estamos muito preocupados e sem perspectivas'', reclama José Ramos Vasconcelos, presidente do sindicato. Ele conta que a empresa enfrenta diversos problemas há muitos anos e que sempre atrasava os salários em pelo menos 10 dias. Segundo ele, há alguns anos a usina já precisou ser interditada. No que diz respeito à infraestrutura, Vasconcelos frisa que nem equipamentos básicos de segurança para trabalhar os funcionários tinham.


Empresa tenta retomar atividades

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O advogado da Usina Casquel, Alcides Aparecido Ferraz, informou que a empresa parou de funcionar há mais de 20 dias por conta de dois processos que determinaram a apreensão da produção, o que acabou inviabilizando as atividades. ''A gente já entrou com recurso para reverter essa determinação e assim retomar os trabalhos'', disse Ferraz, destacando que funcionando a usina tem mais condições de sair da crise e frisando que a medida se faz necessária porque a empresa emprega de 800 até 1,5 mil funcionários no auge da safra. Mas avisou que a curto prazo a previsão é de que a indústria continue fechada.


Segundo o advogado, há alguns anos a usina passa por dificuldades financeiras que se agravaram nos últimos meses. ''O setor sucroalcooleiro é muito instável, em muitos períodos o custo de comercialização não cobre o custo de produção'', justificou. Ferraz preferiu não confirmar o valor da dívida da empresa ''porque se tiver alguém interessado em comprar a usina, divulgar esse número pode atrapalhar os negócios''. E depois desconversou sobre o asssunto, dizendo que os proprietários não querem vender a empresa e que a usina vai se recuperar desse momento difícil.

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O superintendente da Associação de Produtores de Bionergia do Estado do Paraná (Alcopar), Adriano da Silva Dias, observou que o setor passou por diversos problemas no ano passado, o que pode ter acarretado ou mesmo agravado a crise em algumas empresas. Conforme ele, o maior problema foi o reflexo da crise financeira mundial na produção de açúcar e álcool.


Algumas empresas, acrescentou, planejavam uma expansão, deram início ao projeto, mas por conta da crise não conseguiram financiamento e ficaram descapitalizadas. ''De uma hora para outra se viram em dificuldade'', enfatizou Dias. O representante da Alcopar destacou que as empresas que conseguiram passar 'ilesas' pela crise foram aquelas que estavam capitalizadas, pretendiam investir na expansão, mas ainda não haviam usado esse recurso - próprio ou financiado.


No caso da Casquel, o problema vinha de alguns anos e se agravou com a crise. Além disso, 2009 foi um ano climático atípico, com muita chuva, o que acabou atrapalhando a colheita e, consequentemente, a produção do setor. Além disso, os preços do álcool estavam ruins. Ainda sobre as dificuldades das empresas no Paraná, Dias comentou que a crise financeira atrapalhou, porém deficiência na gestão e falta de planejamento podem ter acentuado o problema.

Para este ano, contudo, as expectativas para o setor sucroalcooleiro são bastantes positivas. ''Passamos por um período com melhores condições comerciais e financeiras. E o mercado se mostra promissor e com demanda'', enfatiza. Ele acredita que se forem liberados os recursos que o governo tem prometido para financiar estoques ajudará ainda mais a amenizar a crise das empresas.


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