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Gasto e consumo

Livro mostra para onde vai o dinheiro dos brasileiros

Agência Fapesp
23 jun 2007 às 14:00

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De 1987 a 2003, os gastos das famílias brasileiras com educação aumentaram, especialmente devido ao aumento nas mensalidades dos cursos superiores. No mesmo período, o uso dos ônibus diminuiu e o de automóveis aumentou, sobretudo entre os mais pobres. Os gastos com saúde aumentaram nos setores de maior renda.

Essas são algumas das conclusões dos artigos que compõem o livro Gasto e consumo das famílias brasileiras contemporâneas, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e lançado nesta quinta-feira (21) durante seminário na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

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Os artigos apresentam um raio X de como é gasto o dinheiro no Brasil, com base no banco de dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os organizadores foram Fernando Geiger Silveira, Luciana Servo, Tatiane Menezes e Sérgio Francisco Piola, todos do Ipea.

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Na maior parte dos casos, foram comparados os gastos registrados nas três últimas POF, de 1987/1988, 1995/1996 e 2002/2003. A porcentagem das despesas familiares com educação subiu de 3% para 5,5%, de 1987 a 2003. Os brasileiros gastaram menos com alimentação, passando de 22% para 18,7% no período.

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Os dispêndios com cultura, transportes e saúde se mantiveram estáveis. Os gastos com vestuário caíram de 11% para 5% do total. A habitação passou a pesar mais no bolso dos brasileiros: pulou de 18,5% para 22,4% dos dispêndios familiares.


Autor do capítulo sobre gastos com educação, Jorge Abrahão de Castro, pesquisador do Ipea, destaca que o aumento dos gastos das famílias brasileiras com educação foi de 74% no período entre 1987 e 2003. "A educação correspondia a 3% das despesas dos brasileiros. Esta porcentagem saltou para 5,5%", disse à Agência FAPESP.

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O aumento dos gastos, de acordo com Castro, esteve ligado à expansão do ensino superior privado. "A análise indica um crescimento da demanda pelo ensino superior e um aumento das mensalidades. O movimento é resultado da política adotada no país de expansão do ensino superior privado", afirmou.


Na educação básica, em que houve expansão do ensino público no período, os gastos ficaram estáveis, correspondendo a 1% das despesas familiares, independentemente da faixa de renda. No ensino superior, os gastos aumentaram no decorrer do período.

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"A pesquisa mostra que, quando o governo deixa de investir na educação, como ocorre no ensino superior, o cidadão é quem paga a conta. E, quem não pode, fica excluído da universidade. O ensino público não é igualitário", disse Castro.


Transporte e saúde

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Os gastos em saúde, de acordo com um dos autores do capítulo sobre o tema, Bernardo Campolina, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), aumentaram muito entre os 20% da população com maior renda e permaneceram estagnados entre os mais pobres. "Achamos que esse movimento tem ligação com a adesão das classes de renda mais alta a planos de saúde particulares", disse o economista.


Os gastos das famílias brasileiras em saúde caíram em relação aos gastos totais, segundo Campolina. "A maior cobertura do SUS e a redução de alguns preços de bens e serviços de saúde aliviaram o orçamento dos mais pobres", destacou. Conforme a renda sobe, os gastos com saúde também aumentam.

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No setor de transportes, segundo o responsável pelo capítulo, Alexandre Gomide, do Ipea, o uso de ônibus ainda predomina entre os gastos, mas com uma variação negativa de 12,5%. Em compensação, as despesas com transportes alternativos aumentaram 134%.


"Os transportes alternativos explodiram principalmente no Recife, Rio de Janeiro e Belém. Em São Paulo, eles não chegam a 0,1% das despesas correntes. Em Curitiba, é inexistente", disse.

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Entre 1995 e 2003, de acordo com Gomide, o aumento de despesas com veículos próprios ocorreu em todas as faixas de renda. A substituição do transporte público pelo veículo particular, no entanto, teve maior intensidade entre as famílias mais pobres.


"Ao contrário do que se passou com a telefonia, em que os gastos dispararam no período devido ao aumento de acesso, no caso dos transportes o principal motivo para o crescimento foi a elevação das tarifas de transportes públicos. Isso também explica o aumento do transporte individual", disse.


No setor cultural, os dispêndios das famílias brasileiras chegaram, em 2002, a quase R$ 40 bilhões, o equivalente a cerca de 3% dos gastos totais.

De acordo com um dos autores do capítulo, o antropólogo Frederico Barbosa, do Ipea, a maior fatia dos gastos se deu no setor audiovisual (41,2%), seguido pela leitura (15,6%), pelo setor fonográfico (14,6%) e pela informática (14,6%). "Em relação a classes sociais, constatamos que os gastos em cultura são tão concentrados como a renda e o consumo em geral", disse.


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