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Em Londrina

Londrina: donos de postos confirmam alinhamento de preços

Loriane Comeli - Redação Bonde
29 jun 2009 às 23:46
Nas últimas semanas, o preço do álcool caiu drasticamente em Londrina; a maior parte dos postos vende o litro do combustível por R$ 0,99 - Reprodução
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Três empresários, donos de dois dos cerca de 120 postos de combustível de Londrina, disseram em entrevista ao Bonde que empresários honestos estão sendo prejudicados por um grupo de revendedores que adulteram produtos, sonegam impostos e vendem 900 mililitros de combustível, mas cobram um litro. Eles preferiram ter suas identidades não reveladas, temendo retaliações.

"Não são empresários; são bandidos", acusou o presidente do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis do Paraná (Sindicombustíveis), Roberto Fregonese, para quem "um terço" dos donos de postos de Londrina praticam atos ilícitos e até criminosos em sua atividade. "É gente que só quer ganhar dinheiro e não tem qualquer responsabilidade ética ou legal".

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Esta fama de desonesto começou com as investigações do Ministério Público e do Procon sobre denúncias de cartel em Londrina; empresários foram processados e presos. Hoje, quem diz estar trabalhando de acordo com a lei, também é tido como "bandido".

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"Aonde vamos, somos taxados de corruptos, bandidos, mas não é isso", afirmou um dos empresários que procurou o Bonde esta semana. "A gente entende que seja essa nossa imagem, porque há duas semanas o álcool custava R$ 1,45; agora está sendo vendido a R$ 0,99. O consumidor não entende como isso acontece", acrescentou outro revendedor. Os três entrevistados confirmaram que também baixaram seus preços para R$ 0,99 em razão da concorrência.

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Nas últimas semanas, o preço dos combustíveis, principalmente o álcool, caiu drasticamente em Londrina. Hoje a maioria dos postos está vendendo o litro do combustível a R$ 0,99, um preço "completamente artificial", segundo os empresários e também de acordo com o Sindicombustíveis.


Para provar o preço artificial, o grupo de empresários apresentou notas fiscais que demonstram o preço que pagaram pelo produto. Nota emitida por uma distribuidora em 18 de março aponta que o álcool custou ao comprador R$ 1,2327. Foram adquiridos pelo empresário 5 mil litros a R$ 6.163,29, incluído o ICMS. Nesta época, o preço de venda do álcool era de R$ 1,45, aproximadamente. Recentemente, no entanto, a mesma distribuidora vendeu 10 mil litros de álcool pelo preço de R$ 0,9009 o litro, incluído o imposto.

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Notas de outra distribuidora também revelam a queda dos preços. Em 1º de junho, foi cobrado R$ 0,9953 pelo litro do álcool. No último dia 25, o preço litro caiu para R$ 0,9004. Nos dois casos, o ICMS já está incluído no cálculo.



"As distribuidoras perceberam que passamos a comprar menos porque estávamos vendendo menos, já que o consumidor estava procurando os postos que ofereciam preços mais baixos; como eles também têm uma cota de vendas a manter, resolveram baixar o preço para os outros postos", contou um dos empresários. "Só que o que eles perdem aqui, eles ganham em outras cidades, onde o preço do combustível está mais alto", acrescentou outro.

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O terceiro entrevistado garantiu que o preço do álcool ficará neste patamar de preços apenas até o final do mês. "A distribuidora disse que esse preço (de R$ 0,90) vai até 30 de junho. Depois vão voltar a vender o álcool pelo seu preço normal", explicou. "Não nos sobrou outra alternativa senão baixar os preços. Não são só as vendas que perdemos; perdemos também os clientes, que não voltam mais depois, mesmo que o preço esteja normalizado".



"Se a companhia está abaixando os preços artificialmente, ainda que para proteger empresários honestos, está praticando dumping, está alinhando, está fazendo um arranjo. O mercado está sendo manipulado: é um crime contra a ordem econômica", explicou Roberto Fregonese. "Esses preços praticados em Londrina não existem".

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O começo



Segundo os empresários, o problema nos postos começa quando um empresário abaixa o preço do combustível por meio de artifícios criminosos, como a sonegação fiscal, a adulteração e venda de quantidade inferior à cobrada. Com esta "margem", ele consegue vender o combustível mais barato. O posto vizinho, perdendo clientes, é obrigado a "ceder" e nivela os preços, muitas vezes operando no "vermelho".

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As distribuidoras, como relataram os empresários, precisam "manter sua cota" de venda e também abaixam artificialmente os preços, para que os postos continuem comprando seu combustível – mas descontam esse "prejuízo" cobrando mais caro pelo combustível vendido em postos de outras cidades.



O prejuízo

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Em decorrência deste ciclo de desonestidade e concorrência desleal, empresários começam a acumular prejuízos. Um dos entrevistados pelo Bonde relatou que nos cinco primeiros meses do ano seu estabelecimento "ficou devendo" R$ 8 mil. "Tive que demitir três funcionários e pagar a rescisão", afirmou, acrescentando que um quarto funcionário está com aviso prévio. "Tive que demitir para enfrentar este momento". Para junho, projeta uma perda ainda maior, em razão da queda recente dos preços. "Estou calculando um prejuízo de R$ 17 mil apenas para o mês de junho. Os honestos acabam sendo prejudicados pelos desonestos. Muita gente séria vai falir", prognostico.



O empresário disse que mudou o ramo de atividade e, com R$ 350 mil, resolveu investir no combustível. "Estou arrependido. Se pudesse, voltaria atrás", desabafou. "Tem muita gente séria, mas, tem gente ruim também: sabemos que tem postos que vendem 900 ml de combustível como se fosse um litro. Os clientes nos falam isso constantemente, dizendo que quando abastecem em determinado posto, a média do veículo cai".



No entanto, o revendedor disse que jamais foi procurado por qualquer colega do ramo para praticar o ajuste artificial de preços, o cartel, prática criminosa que está sendo investigada pelo Ministério Público. "Ainda não fui notificado pelo Ministério Público a apresentar documentos, mas se eu for vou mostrar que estou quase indo à falência".



Para o grupo de três empresários, houve uma "pressão excessiva da imprensa e do Ministério Público" sobre os postos, o que motivou a redução "absurda" nos preços do álcool e da gasolina. Na última semana, postos de Londrina estão vendendo o álcool a R$ 0,99. O litro da gasolina pode ser encontrado R$ 2,23.



A concorrência



Talvez efetivamente a falência seja o objetivo dos empresários responsáveis pelo dumping. Hoje são 120 postos em Londrina, segundo o Sindicombustíveis, que competem entre si por clientes. Para trabalhar com uma margem de lucro pequena é preciso vender muito.


Com "um posto a cada esquina" isso fica difícil. Por isso, diz o sindicato e os empresários, o "extremamente complicado" mercado de combustíveis em Londrina não pode ser comparado a outros. "Em outras cidades, a concorrência é bem menor e os postos acabam vendendo quantidade maior; por isso conseguem trabalhar com uma margem de lucro menor", disse Roberto Fregonese.


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