Primeiro foi preciso recrutar mão de obra de outras cidades da região já que, em Londrina, não havia mais trabalhadores disponíveis. Depois, foi necessário buscar operários em outros estados, inclusive do Nordeste. Mesmo assim não foi suficiente. E, hoje, o consórcio formado por três construtoras que erguem o Residencial Vista Bela, na zona norte da cidade, está selecionando mulheres de Londrina e contatando empregados no Paraguai.
A obra, sob responsabilidade das construtoras Artenge, Protenge e Terra Nova, é uma das maiores do programa Minha Casa, Minha Vida de todo o País. No terreno de 650 mil metros quadrados que fica ao final da Avenida Saul Elkind (sentido oeste), vão morar entre 10 mil e 12 mil pessoas, uma população maior que a de Alvorada do Sul, por exemplo. Serão 1.272 casas e 1.440 apartamentos distribuídos em 90 prédios.
Os números do Vista Bela são impressionantes. A Caixa Econômica Federal investe aproximadamente R$ 80 milhões no residencial. Atualmente, estão registrados na obra cerca de 1.200 trabalhadores. E a folha de pagamento é de R$ 1,2 milhão por mês, com salários que variam de R$ 800 a R$ 2.300, segundo o engenheiro responsável, José Antonio Bahls Santos. Estima-se que outros 300 homens atuem no local sob responsabilidade de empresas terceirizadas.
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Dos 1.200 funcionários já contratados pela obra que teve início no fim do ano passado, apenas 600 moram na cidade. Cerca de 300 vêm todos os dias de ônibus dos municípios vizinhos. E outros 300 são de longe e estão abrigados no próprio canteiro, em 80 quartos improvisados. Novos alojamentos estão sendo construídos pois, no pico do projeto, daqui a um mês, o total de trabalhadores deve chegar a 1.500.
''Em Londrina, não há mais mão de obra disponível. Por isso, abrimos a Escola de Mulheres. E também vamos recrutar homens no Paraguai'', explica Santos. E para onde vai tanta gente quando terminar a construção do residencial? Segundo o engenheiro, os empregos devem ser mantidos durante o próximo ano em quatro outras obras do consórcio em Londrina, Cambé, Arapongas e Rolândia.
A maior parte das unidades do Vista Bela será entregue até dezembro, segundo previsão do consórcio. Deve ficar para meados do ano que vem somente a conclusão de 41 dos 90 prédios.
De acordo com o engenheiro, a obra é o maior desafio da história das três construtoras. ''Tivemos de implantar novas tecnologias, utilizando equipamentos mais modernos, que foram necessários devido à grandiosidade do trabalho'', salienta.
Trocando lanches pela cerâmica
Há duas semanas, Tereza Aparecida Porcino da Cunha Freire, 34 anos, deixou o emprego de chapeira para cursar a Escola de Mulheres da obra do Residencial Vista Bela. Depois de cinco dias de aula numa turma de dez mulheres, ela foi contratada junto com outras cinco colegas como assentadora de cerâmica.
''Acho que nesta profissão terei mais chances de crescer'', afirma. Casada, mãe de um filho, ela não acredita que vai sofrer preconceito no canteiro de obras e diz o marido, que é pedreiro, apoiou sua decisão. ''Estou gostando muito do serviço. É bem menos estressante que fazer lanche. Depois que terminar aqui, vou continuar em outras obras'', garante. Tereza terá um salário de R$ 547 mais R$ 234 de vale-compras.
Segundo o engenheiro Bruno Morykawa, a intenção é contratar até 30 mulheres. ''Elas estão se mostrando muito interessadas e caprichosas'', afirma. Além de assentadoras de cerâmica, a escola irá formar pintoras de parede.
Comerciantes estão ansiosos
Os comerciantes da zona norte estão ansiosos pela entrega das casas e apartamentos do Residencial Vista Bela. ''É praticamente um novo Cinco Conjuntos'', afirma o presidente da Associação Comercial da Região Norte (Acirenor), José Rui Egídio. Ele acredita que a região ''está vendo um futuro promissor''. ''O local mais privilegiado de Londrina é aqui'', acredita.
Segundo Egídio, o residencial abrirá espaço para novos empreendimentos comerciais na região. ''Vamos precisar de mais lojas de confecção, mais supermercados, mais oficinas mecânicas e postos de combustível.''
O gerente da loja do Super Golf da Saul Elkind, Marcos Pereira Silva, também está muito otimista. Localizada a cerca de dois quilômetros do residencial, ele acredita que a loja vai sentir um impacto positivo nas vendas. ''Dez mil pessoas é muito gente. Certamente todos os mercados da região vão se beneficiar'', afirma.