O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apresentou, nesta segunda-feira (31), quatro projetos de lei que preveem mudanças na forma como o petróleo da camada pré-sal é explorado no país.
Além de estabelecer o novo marco regulatório, os projetos de lei, que seguem em regime de urgência para o Congresso, determinam a criação de uma nova estatal para cuidar do petróleo do pré-sal, a criação de um fundo de investimentos a ser mantido com recursos do petróleo e a capitalização da Petrobras.
O ponto principal das mudanças defendidas pelo presidente é a transição para o modelo de partilha, o que permitirá ao Estado ter maior participação nos projetos de exploração e produção do petróleo.
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"O petróleo pertence ao Estado, ou seja, a todo o povo brasileiro. Com o modelo de partilha, poderemos aproveitar a riqueza que Deus nos deu", disse Lula a uma plateia de quase três mil pessoas, em Brasília.
Crise
O modelo que vigora atualmente no país, conhecido como "regime de concessão", foi aprovado em 1997. Nesse sistema, o setor privado adquire o direito de explorar determinada área, mediante uma série de pagamentos ao poder público, como bônus, royalties e participações especiais.
Segundo o presidente Lula, "estamos vivendo um cenário diferente de 1997, quando foi aprovada a lei do Petróleo".
"Naquela época os adoradores do mercado estavam em alta e tudo que se referisse à presença do Estado na economia, estava em baixa", disse o presidente. "Foram tempos de pensamentos subalternos."
Lula citou a recente crise financeira internacional para justificar uma maior participação do Estado na economia.
"Os países descobriram que, sem regulação e fiscalização do Estado, o mercado é capaz de transformar o mundo em um abrir e fechar de olhos", disse.
No modelo de partilha, parte ou totalidade do petróleo fica nas mãos do governo, enquanto as empresas são remuneradas pelo serviço e recebem um adicional em petróleo (profit oil).
O regime é criticado pelas empresas do setor e por parte dos especialistas. O argumento é de que a lei atual é "respeitada internacionalmente" e que mudá-la pode assustar investidores.
Além disso, os críticos dizem que a maior participação do governo na indústria é mais propícia a casos de corrupção e de ineficiências.
O presidente defendeu o modelo de partilha como forma de garantir recursos para futuras gerações.
"É como se tivesse uma mão divina. Não a mão do mercado, mas uma bem mais sábia e permanente, a mão do povo", disse.
Fundo
O fundo de investimentos previsto em um dos projetos de lei tem foco nas áreas de educação, cultura, meio ambiente, infraestrutura e tecnologia.
Segundo o governo brasileiro, as riquezas geradas pelo pré-sal serão depositadas nesse fundo, mas apenas os rendimentos serão gastos. "É uma poupança, um passaporte para o futuro", disse o presidente.
Nos outros dois projetos de lei, o governo sugere a criação de uma nova estatal do petróleo, a Petro-sal (que será responsável por representar a União nos empreendimentos), além da capitalização da Petrobras no valor estimado de US$ 50 bilhões.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que discursou antes de Lula, disse que o pré-sal tem "finalidades estratégicas" e que uma delas é ampliar o papel geopolítico do Brasil no cenário internacional.
Os projetos de lei seguem para o Congresso em regime de urgência, o que pressiona as duas casas a analisar as propostas em um prazo de até 90 dias. Caso contrário, a pauta do Legislativo é trancada e nenhuma outra matéria poderá ser votada.
O Palácio do Planalto tem a expectativa de que os quatro projetos sejam votados ainda este ano, mas parlamentares disseram à imprensa, logo após reunião com o presidente Lula, que o prazo mais provável é de que a decisão fique para o primeiro semestre de 2010.