Mesmo diante de uma das piores crises vividas pela indústria automobilística brasileira, que leva a produção ao menor nível dos últimos nove anos e as vendas ao pior resultado desde 2007, as montadoras continuam investindo no País. Só nas últimas duas semanas, três fabricantes anunciaram investimentos que totalizam R$ 7 bilhões. Se somados a aportes divulgados desde janeiro, os investimentos anunciados em 2015 chegam próximo de R$ 9 bilhões. São recursos destinados principalmente a centros de pesquisa e aumento do índice de nacionalização, além de novas famílias de veículos e linhas de montagem.
A maior parte desse volume de investimentos vem do anúncio feito na última quarta-feira, 29, pela General Motors (GM). A montadora americana vai investir R$ 6,5 bilhões no desenvolvimento de uma nova linha de veículos no País, com seis modelos, que só devem começar a ser produzidos em 2019. O aporte faz parte do investimento global de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 16 milhões) que a marca está fazendo, em parceria com uma estatal chinesa, para desenvolver carros compactos em quatro mercados emergentes: Brasil, Índia, China e México. Com o montante, a GM dobrou os investimentos no País até 2019 para R$ 13 bilhões.
Outro anúncio feito nas últimas semanas foi da Hyundai. Como antecipou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, no último dia 23 de julho, a montadora coreana está investindo R$ 100 milhões na construção de um centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na fábrica de Piracicaba (SP). O objetivo do empreendimento será, inicialmente, a construção de motores biocombustível (flex) para equipar os automóveis produzidos pela empresa no Brasil. Na mesma semana, a montadora chinesa Chery também anunciou que vai investir R$ 400 milhões na construção da terceira linha de montagem na fábrica de Jacareí (SP), destinada à produção do SUV Tiggo 5.
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Inovar-Auto
Analistas ressaltam que os investimentos das montadoras no Brasil em 2015 são estimulados principalmente pelo Inovar-Auto, regime automotivo que cobra maior eficiência de motores em troca de incentivos fiscais, como nos casos da Hyundai em Piracicaba e da Volkswagen, que está investimento R$ 460 milhões para desenvolvimento de uma nova tecnologia de motores turbos em São Carlos (SP). Também este ano, Peugeot Citröen (R$ 177 milhões) e Iveco (R$ 650 milhões) anunciaram investimentos nesse sentido. Também pesam para essa decisão em 2015, mas em menor grau, o ciclo natural de atualização de produtos, expectativa de recuperação do mercado nacional em médio e longo prazos.
"Os investimentos anunciados nos últimos anos pela Audi, da BMW e da Mercedes-Benz, que estão construindo fábrica no Brasil, também são por conta do Inovar-Auto", lembra Julian Semple, consultor da Carcon Automotive. Ele destaca que, na indústria automotiva, os investimentos são sempre de longo prazo, como costumam reforçar executivos do setor durante os anúncios. "Entendemos que o País enfrenta problemas econômicos e políticos, mas nossa decisão olha para o futuro e continuamos vendo forte potencial no Brasil", afirmou o presidente mundial da GM, Dan Ammann, durante anúncio do investimento de R$ 6,5 bilhões.
O economista Rodrigo Baggi, da Tendências Consultoria Integrada, ressalta que os investimentos anunciados neste ano estão associados ao ritmo de expansão natural das empresas. "A maioria não é de ampliação de capacidade. Anúncios de grandes investimentos nesse sentido estancaram por volta de 2013", lembrou. Segundo ele, a maioria das montadoras só deve voltar a investir nesse sentido em longo prazo, pois, pelos cálculos dele, a atual capacidade instalada é suficiente para produção durante os próximos oito anos. "Ou seja, se o mercado bombasse de hoje para amanhã, as montadoras estariam tranquilas", disse o economista. Estima-se que, atualmente, as fábricas operam com 50% a 60% da capacidade instalada no País.
Para o presidente da Anfavea, Luiz Moan, os aportes já anunciados neste ano são "extremamente relevantes" e comprovam que as montadoras investem sempre pensando em médio e longo prazos. Ele lembrou projeções da Anfavea de que o mercado brasileiro consumidor de veículos deve praticamente dobrar até 2034, atingindo 6,9 milhões de unidades. "Esse é o horizonte que as montadoras trabalham", afirmou. Moan ressaltou ainda que os aportes em aumento do conteúdo nacional para atender ao Inovar-Auto mostram a importância do programa como indutor de investimentos no País.