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Crise econômica

Momento da economia requer alguma radicalidade, diz diretor do Bradesco.

Agência Estado
14 set 2015 às 14:50

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- Divulgação
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O diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, Octavio de Barros, disse nesta segunda-feira, 14, que o momento atual da economia brasileira requer alguma radicalidade, entendida, de acordo com ele, como uma certa ousadia em relação a alguns fatores que podem mitigar a deterioração que ocorreu na confiança. A palestra de Barros foi feita durante o 12º Fórum de Economia organizado pela Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV).

Para o diretor do Bradesco, "os bombeiros chegaram" e os empresários estão cansados dessa crise. "Não veem a hora da superação dessa crise para reconstruir seus planos de médio e longo prazos", disse, acrescentando que o que está acontecendo no Brasil é um risco maior de o País ver seu principal ativo afetado. "E o principal ativo do Brasil é a leitura generosa que os atores fazem a respeito do futuro", disse o economista.

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Barros ressaltou a queda das expectativas dos analistas do mercado financeiro no Boletim Focus para os anos a partir de 2017. "Eu acho que isso precisa ser interrompido para que possamos de fato tratar este momento como uma coisa temporária, onde o endereçamento dos temas cruciais será realizado", disse o diretor do Bradesco, acrescentando que, de acordo com sua intuição, esta crise não pode ser desperdiçada. "Esta crise não pode ser desperdiçada. É o momento de se implementar reformas que jamais seriam feitas em condições de normalidade", disse Barros.

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Governança orçamentária

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Para Barros, falta uma agenda de governança orçamentária ao Brasil. De acordo com ele, as pessoas podem estar pensando apenas na questão fiscal, de superávit primário, mas é preciso ir além disso. "O problema do Brasil é a falta de disciplina orçamentária. O Brasil é um dos poucos países que não têm esta disciplina", disse. Segundo Barros, o crescimento dos gastos primários no Brasil vem avançando sistematicamente acima do PIB nominal, entre 0,3 e 0,5 ponto porcentual todo ano, e a carga tributária, consequentemente, segue a voracidade do gasto público por razões "históricas de interesses que se consolidam em leis e rigidez" no País.


"No geral, a rigidez do gasto público no Brasil tem a ver com esses interesses que, ao longo de décadas, se consubstanciam em leis", disse Barros, acrescentando que a questão da qualidade do gasto é fundamental, mas que mais importante é a necessidade da volta do "velho rudimentar". Barros se referiu à proposta do então ministro do Planejamento Paulo Bernardo, rechaçada e classificada pela então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff de rudimentar.

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A proposta de Bernardo, em linhas gerais, previa o condicionamento do crescimento dos gastos públicos ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). "Eu acho que é isso que todo país do mundo tem, uma disciplina orçamentária. O gasto tem que ter algum tipo de regra de crescimento e a briga ideológica que se dê em torno do orçamento lá no Congresso", disse, ressaltando que à medida que se cria uma "camisa-de-força" se favorece a criação de superávits primários.


"No dia em que aprovarmos regras para os gastos públicos, os mercados vão reagir imediatamente, trazer isso a valores presentes. Nós vamos ter queda da taxa de juros na hora, melhora da confiança e, certamente, uma menor tensão sobre o mercado de câmbio", disse o diretor do Bradesco.

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Países emergentes


Barros ressaltou ainda que o diferencial de crescimento entre os países emergentes e os desenvolvidos tem se estreitado, com o PIB dos emergentes desacelerando e o dos avançados aumentando.

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De acordo com o economista, se tirar a China desse bloco, a diferença é de 1,4 ponto porcentual. "Ou seja, os países emergentes, que há alguns anos cresciam 6 pontos de PIB acima do crescimento dos países maduros, estão crescendo agora um pouco mais que 1,5%", observou.


Para Barros, outro aspecto que não se deve desconsiderar é o fato de o comércio mundial estar vivendo um de seus piores momentos da historia. "Estamos vivendo uma recuperação sem comércio. O comércio mundial está crescendo abaixo do PIB, o que não acontecia há mais de 20 anos", disse sobre o crescimento do comércio mundial próximo de zero e em valor negativo de 5% nos últimos 12 meses.

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De acordo com Barros, o comércio dos países desenvolvidos no período caiu 6% e o dos emergentes, tirando a China, vem caindo quase 9%. "É um momento complexo, porque justamente quando o Brasil promove um importante mudança no seu regime cambial não se encontra a demanda mundial ativa para que o País possa fazer das exportações um driver mais dinâmico para uma recuperação cíclica como historicamente sempre foi.


Barros faz questão de salientar que não quer, com isso, sugerir que as exportações não vão cumprir um papel importante mais adiante, mas que isso ajuda a explicar o fato de a taxa de câmbio hoje no Brasil estar mais depreciada do que muita gente supunha, por conta da fraqueza da demanda externa. "A China é o pivô deste processo. A gente assiste de forma clara à China se transformando em um país normal, que deverá crescer 5%, 4%. Não descartaria um viés de baixa.".


O Bradesco, de acordo com Barros, trabalha com um crescimento de 5,5% de crescimento do PIB chinês no ano que vem. "A China perde competitividade e nós temos indicações de que o crescimento do PIB chinês tende a continuar caindo", disse.

Segundo Barros,a desaceleração da economia chinesa é deflacionária para a economia mundial, afetando preços por meio de commodities, essencialmente de produtos manufaturados. "Esse é outro tema que nos remete ao papel da indústria brasileira", disse Barros.


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