A presidente Dilma Rousseff voltou a criticar no início da tarde desta segunda-feira, em Hannover, na Alemanha, a nova oferta do Banco Central Europeu (BCE) de empréstimos a juros baixos a bancos da região, alegando que ela terá o efeito de desvalorizar artificialmente a moeda comum europeia e poderá criar bolhas na economia global.
"A política monetária expansionista desses países produz um efeito extremamente nocivo, porque desvaloriza de forma artificial as moedas", afirmou Dilma. "O que o Brasil quer é mostrar que está em andamento uma forma concorrencial de proteção de mercado, que é o câmbio. Não é tarifa, é o câmbio", disse.
A presidente pretende levar a queixa à chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, no encontro que as duas terão na noite desta segunda-feira após a abertura da CeBIT, a maior feira internacional de tecnologia, que tem neste ano o Brasil como país-parceiro.
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Para a presidente do Brasil, os europeus estão dispostos a ouvir a queixa. "Tenho certeza que sim. Pelo menos a chanceler declarou com muita pertinência que ela tinha consciência do fato", afirmou Dilma, comentando as declarações feitas na sexta-feira por Merkel, que afirmou que a medida do BCE não se repetirá e que o montante liberado aos bancos será rapidamente absorvido pelo sistema financeiro e não criará excedentes.
Na semana passada, o BCE anunciou a liberação adicional de 530 bilhões de euros para os bancos europeus a juros de 1% ao ano. Em dezembro, outros 489 bilhões de euros já haviam sido oferecidos aos bancos.
Apesar das justificativas de Merkel sobre a ajuda aos bancos, Dilma afirmou que "é importante que os países desenvolvidos não façam só políticas monetárias expansionistas, mas façam também políticas de expansão do investimento".
"Os investimentos melhoram não só a demanda interna, mas também abrem a demanda externa para os nossos produtos", afirmou.
Emergentes com o Brasil
Segundo Dilma, a crítica às políticas europeias de combate à crise não são somente do Brasil. "Não estamos sozinhos nisso, todos os emergentes estão com o Brasil. Isso é uma constatação técnica, não estamos falando nada demais. É importante que se perceba isso", afirmou.
"Assim como é importante se conter a inflação, e todo mundo discute inflação, é importante também discutir mecanismos incorretos de política cambial", observou a presidente.
Questionada se as críticas brasileiras não representam uma interferência nos assuntos internos europeus, a presidente rebateu afirmando que a política do BCE "está interferindo nos assuntos" de países fora do bloco.
"É um efeito internacional, não é um efeito de países. Não sou eu que reconheço isso, são os organismos multilaterais, como o FMI, o BIS (o banco de compensações internacionais), que percebem claramente os efeitos disso", afirmou.
"Todo mundo se queixa de barreira tarifária, de protecionismo. Essa é uma forma de protecionismo", observou Dilma. Segundo ela, além da desvalorização artificial da moeda, a política do BCE "cria uma massa monetária que não vai para a economia real".
"Produz o que? Bolha, especulação. Reconheço que é um mecanismo de defesa, mas o que se ganha com isso, e vou repetir uma expressão do BIS, se ganha tempo só", disse.
Assessor desautorizado
A presidente brasileira também aproveitou a curta entrevista à imprensa que acompanha sua visita na Alemanha para desautorizar declarações feitas na véspera pelo assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Garcia havia afirmado que o Copom (comitê de política monetária do Banco Central) deve reduzir os juros em sua próxima reunião, ajudando a reduzir a pressão para a entrada de divisas no país e pela valorização excessiva do real.
"Quem fala sobre juros no meu governo é o Banco Central, (o presidente do banco) Alexandre Tombini", afirmou Dilma, a poucos metros de distância de Garcia.
"Nem eu nem ninguém tem autorização pra falar sobre juros", completou.