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Crise de credibilidade

'Não tem espaço para aumentar imposto', diz presidente da Brastemp e Consul

Agência Estado
14 set 2015 às 13:23

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João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para a América Latina, dona das marcas Brastemp e Consul e a maior fabricante de eletrodomésticos do País, diz que o Brasil vive uma crise de credibilidade. Em entrevista ao jornal o Estado de S. Paulo, ele criticou a saída para a crise via aumento de impostos. "Como qualquer empresa, o ajuste tem de ser pela despesa. Não tem milagre, a equação de impostos chegou ao limite."

Questionado sobre qual seria o cenário dele para o País, o empresário disse que nunca conversou tanto com tantos colegas e tantas pessoas para tentar ter uma leitura correta do que está acontecendo. "Tinha um ajuste que precisava ser feito, mas o problema do Brasil não foi o ajuste. O que aconteceu foi uma crise política que contaminou a economia e, pelo tempo que está demorando, virou crise de credibilidade e de confiança. Hoje, o problema é confiança."

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João Carlos Brega salientou que o problema é a confiança no futuro. "Por que o empresário decide abrir um negócio ou aumentar a capacidade? Porque ele tem a confiança de que vai vender mais. Ele vai ao banco e pede um empréstimo. O banco empresta na confiança de que ele vai pagar. O consumidor, com horizonte de emprego, tem a confiança de fazer um financiamento. Aí a bicicleta roda. Isso foi quebrado porque o consumidor está ou tem alguém muito próximo dele que está desempregado."

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Segundo ele, a primeira coisa para resolver a crise de confiança é encarar a realidade. "Queremos superávit. Só que existe uma carga fiscal de quase 40% do PIB, não tem espaço para aumentar. Tem de mexer na despesa e deixar a iniciativa privada investir", disse. "Em dezembro, o governo deu 3% de Reintegra (devolução de imposto para exportadores). Mas, em janeiro, reduziu para 1%, alegando problema de déficit. Depois, decidiu acabar com a desoneração da folha de pagamentos e criou o PIS/Cofins sobre a receita financeira. Daí, da noite para o dia, vem a CPMF. Não tem milagre, a equação de impostos chegou ao limite. Vai subir imposto e cair a receita porque a pizza será menor. Em vez do imposto provisório, deveríamos lançar a campanha pela redução de despesa provisória", sugeriu.

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Questionado se é a favor de um processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o empresário disse respondeu que não e lembrou que há uma Constituição que prega que, quem é eleito, "governa por quatro anos e ponto". "Se não gostou, na próxima eleição vote certo. Aprenda a votar. Comece agora com vereador, prefeito. Esse cenário de impeachment não existe para mim", destacou.


Sobre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o presidente da Whirlpool disse que a experiência dele é fantástica, seja na vida empresarial, seja na parte de governo, na secretaria do Rio de Janeiro em especial. "Uma formação acadêmica que dispensa qualquer comentário. Mas a gente tem de entender o que podemos exigir e cobrar dele. Tem uma frase que diz: não adianta matar o mensageiro. A gente está atirando no Levy como mensageiro", opinou. "Existem 38 ou 39 ministérios, uma presidente. Esse time que tem de se articular e fazer uma proposta muito mais abrangente. Se não, a gente vai ficar com essa miopia", cobrou.

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Segundo João Carlos Brega, a miopia é focar só na parte de impostos. "Acho que tinha de ser ao contrário. Acho que a gente tinha de focar na despesa e entender algumas medidas e não ter esse vício de só falar em impostos, que é o mais fácil, mas não vai adiantar. Porque não vai aumentar. A mesma coisa: no orçamento para o ano que vem a premissa é um crescimento de PIB. Não é a nossa premissa."


Quanto ás previsões sobre a economia, o empresário disse que ela vai "andar de lado ou ter uma pequena queda". "Por isso é que gera incerteza. O governo não acerta o tom. Falta alguém falar vamos caminhar para cá. É isso que a gente precisa, e não ficar criticando."

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Ressaltou, porém, que "o Brasil não acabou". "Aprendi que tem uma notícia boa nessa crise. Ela vai acabar. Tem um detalhezinho pequeno que é quando", afirmou.


Para Brega, são duas discussões necessárias: apressar esse fim da crise e fazer com que a outra fase positiva seja robusta e sustentável. "Até 2017, vai ser um cenário de não crescimento econômico. Tem eleição para prefeito e vereador no ano que vem. A base de prefeitos propicia uma boa base para a eleição presidencial. O desenho do resultado da eleição de prefeitos vai imediatamente disparar a campanha presidencial", avaliou. "A grande retomada vai ser pós eleição 2018. Até 2016, 2017, dado o cenário de hoje, não esperamos nada espetacular", considerou.

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Brotinho


A crise derrubou em 15% as vendas da Whirlpool, maior fabricante de eletrodomésticos do País, e fez a empresa retroceder a sua produção de geladeiras, fogões e máquinas de lavar a níveis de 2007. Para enxugar os estoques, a companhia - com fábricas instaladas em Rio Claro (SP), Joinville (SC) e Manaus - pisou no freio da produção e deu férias coletivas em fevereiro.

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Em julho, a parada ocorreu na administração da empresa. As fábricas estão rodando com menos de 70% da capacidade de produção. "O problema é que a pizza, que era tamanho família, agora é brotinho", compara Brega, fazendo menção à redução do mercado.


O corte na produção veio acompanhado de um enxugamento de quadros. A empresa deixou de repor 4 mil vagas e não está contratando funcionários. Brega diz que novas medidas de ajuste não estão nos planos. Nem mesmo a alta do dólar é vista pelo executivo como um impulso imediato às exportações de compressores da Embraco, que faz parte do grupo.

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A companhia não divulga dados específicos de Brasil, que representa a maior fatia do grupo na América Latina. No ano passado, a Whirlpool faturou na região R$ 9,66 bilhões e empregava 13 mil trabalhadores.


Questionado se o comportamento do dólar poderia ajudar em alguma coisa, o empresário respondeu que a moeda norte-americana é igual à divida. "Quando você tem possibilidade de pagar, você se preocupa, deixa de dormir. Neste caso, não tem jeito, eu não consigo controlar. O que a gente sabe é que é um momento de total oscilação para cima. Agora, é ter paciência e esperar para ver onde ele vai parar."


Em relação ao efeito do dólar sobre as exportações, Brega afirmou que não foi só o Brasil que mexeu no câmbio. "China, Colômbia, Europa e México mexeram. Só a Argentina não mexeu. Eles mexeram no câmbio, só que eles não tiveram a folha onerada, PIS/Cofins e não vão ter não sei o quê que vem pela frente", lembrou. "Eles não têm a carga fiscal que a gente tem. O câmbio vai melhorar as exportações, mas não vai ser o novo driver."


De acordo com Brega, para exportar produto manufaturado, é preciso ter tecnologia e agregar valor. "Para exportar commodity, que era o que a gente vinha tendo até então, é seguir a China. Exportação não vai ser o driver porque não tem porto", lamentou. "A Embraco, por exemplo, empresa do grupo que exporta compressores, tem de mandar o produto para o porto no dia 5, se o navio for passar no dia 30", complementou, lembrando de todos o processo que envolve preenchimento de formulários, fiscalizações, armazenamentos e filas.


Quanto aos investimentos, o Brega informou que a empresa está cortando investimento em produto. "Vamos lançar os mesmos 200 produtos este ano na América do Sul e vamos lançar mais em 2016. Mas não estamos aumentando a capacidade e não vemos horizonte para isso até 2018", observou.


Sobre a perda do grau de investimento, ele respondeu que a decisão deixa o dinheiro mais caro. "Afugenta, ou não possibilita, investidor de longo prazo a colocar dinheiro no País. A gente precisa entender que investidores de fundos têm regras."

Para Brega, o País vai continuar sendo a sétima ou oitava economia do mundo. "Não tem discussão. O que é chato e desagradável é passar por isso, quando, em tese, isso poderia ter sido evitado", avaliou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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