Na semana em que o secretário de Comércio Interior da Argentina liderou uma missão com 580 empresários ao Brasil, com o intuito de exportar mais ao País, a Natura, indústria brasileira líder de mercado no segmento de cosméticos, fragrâncias e higiene pessoal, afirmou estar enfrentando sérias dificuldades para liberar a entrada de seus produtos na Argentina.
Segundo o diretor de assuntos corporativos e relações governamentais da empresa, Rodolfo Guttilla, desde que o secretário de Comércio Interior do país vizinho, Guillermo Moreno, editou Declaração Juramentada Antecipada de Importação (DJAI), em fevereiro, 60% de tudo o que a Natura exporta para a Argentina está parado na alfândega. "É o próprio pessoal do senhor Moreno que está fazendo as liberações. E às vezes dá impressão que a coisa é pessoal, porque eles estão permitindo apenas a entrada das nossas matérias primas, que vão para a nossa terceirizada no país", disse indignado o diretor da Natura.
De acordo com Guttilla, a Natura é a terceira marca de cosmético mais lembrada pelo consumidor argentino. "A Argentina é a sede da nossa operação na América Latina", disse o executiva, acrescentando que a empresa atua no mercado portenho desde 1994. "Mas se a situação continuar nessa instabilidade a Natura não vai ter como manter seus investimentos na Argentina", prevê o executivo, para quem cerca de 60 mil revendedoras no país vizinho que têm na Natura sua fonte renda deixarão de contribuir para movimentar a microeconomia local.
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A Natura tem uma indústria terceirizada que produz cosméticos, fragrâncias e produtos de higiene pessoal na Argentina, mas os produtos acabados produzidos no Brasil, que respondem pela maioria dos embarques para o país vizinho, estão sendo retidos na alfândega de lá. "Confesso que já não sabemos mais o que fazer", diz o executivo. Para ele, a Natura já perdeu a estratégia do Dia das Mães, a segunda melhor data para as vendas. "Estamos a ponto de perder também o resultado do ano. Respeitamos a soberania nacional argentina, mas a medida é desleal porque estamos perdendo mercado para empresas locais", lamentou o diretor da Natura.
Guttilla elogiou a iniciativa do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que esteve na Argentina há 60 dias conversando com o secretário Moreno e com empresários. Na terça-feira (8), Skaf reuniu na sede da entidade, durante todo o dia, os 580 empresários argentinos, 400 brasileiros além do próprio Moreno. Durante o encontro, denominado Rodada de Negócios Argentina-Brasil, brasileiros e argentinos discutiram formas de derrubar as barreiras comerciais erguidas dos dois lados.
Contudo, o diretor da Natura reclama da falta de empenho do governo brasileiro para solucionar o impasse comercial entre os dois países. "Levamos a nossa situação constrangedora ao conhecimento da Secretaria Executiva do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) há um mês e até agora não tivemos nenhuma resposta", queixou-se o diretor da Natura.
Por ser uma empresa de capital aberto, a Natura não abre para o público suas expectativas de faturamento por países ou regiões e nem seus investimentos. No primeiro trimestre deste ano, a receita líquida consolidada da Natura foi de R$ 1,275 bilhão, com crescimento de 11,3% em relação ao mesmo período do ano passado. O lucro líquido foi de R$ 151,5 milhões, com expansão de 11,9% na comparação com o lucro realizado entre janeiro e março do ano passado. Nas operações em consolidação (Argentina, Chile e Peru), a receita líquida no primeiro trimestre foi de R$ 86,1 milhões.