A expansão da economia brasileira a um "ritmo chinês" no primeiro trimestre do ano, como apontam os dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira, não é "sustentável", avaliam economistas ouvidos pela BBC Brasil.
Para eles, o país "ainda não suporta" um crescimento tão acelerado como o da China, sobretudo em função da falta de infraestrutura e de mão-de-obra. Além disso, dizem, existe o perigo inflacionário.
"Se esse crescimento continuar, teremos apagões na infraestrutura, ou seja, colapsos na economia", diz o professor de macroeconomia da FGV-SP, Robson Gonçalves.
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O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 2,7% nos três primeiros meses do ano, na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Se projetada para todo o ano, essa expansão chega a 11,2%.
Já a expectativa de mercado para o crescimento do PIB neste ano é de 6,6%, segundo a pesquisa Focus do Banco Central.
"Todo mundo quer um crescimento chinês, mas com sustentabilidade. Não adianta ter um crescimento anualizado de 10% e uma inflação de 6%. A gente já conhece essa história", diz Cristiano Souza, economista do Banco Santander.
Potencial
Em momentos de forte expansão do PIB brasileiro, os economistas costumam lembrar que cada economia tem um "limite" de expansão (ou PIB potencial). No caso do Brasil, estima-se que esse "teto" de crescimento seja de 4% a 5% ao ano.
O raciocínio é de que o consumo não deve crescer muito além da produção, com o risco de o país começar a produzir gargalos e outros efeitos colaterais, como o aumento dos preços - ou seja, inflação.
Para muitos analistas, o Brasil já está vivendo essa fase. "Pela primeira vez, estamos vendo claramente a falta de mão-de-obra em alguns setores", diz Mauro Schneider, economista-chefe do banco Banif.
Segundo ele, o PIB potencial tende a aumentar gradativamente ao longo do tempo, na medida em que os investimentos tiverem resultado. "Mas, por enquanto, estamos operando acima desse potencial", diz.
Na avaliação do professor da FGV-SP, pelo menos três setores já estariam apresentando gargalos, em função de um crescimento excessivo da economia: energia, transportes e mão-de-obra.
"O crescimento em exagero significa que, em algum momento, teremos um freio. Por isso, o ideal é crescer de forma mais estável", diz Gonçalves.
Inflação e juros
Os economista apontam ainda um outro efeito perverso de um possível crescimento acelerado: a inflação - que, no Brasil, já acumula uma alta de 5,26% nos 12 meses encerrados em abril.
O valor está acima da meta estipulada pelo governo e já fez acender o sinal amarelo no Comitê de Política Monetária do Banco Central - que, em sua última reunião, decidiu elevar os juros em 0,75 ponto percentual.
Segundo Cristiano Souza, o cenário para a inflação no país "não está tranquilo". "Há muita gente no mercado aumentando suas previsões e já preocupada que a pressão inflacionária continue forte em 2011", diz.
Ainda de acordo com o economista do Santander, uma economia superaquecida "facilita" o repasse de preços. "Além disso, a falta de mão-de-obra resulta em aumento de salários, o que também pressiona a inflação para cima", diz.
Diante desse cenário, e expectativa do mercado é de que o Banco Central promova mais um aumento de 0,75 ponto percentual nos juros na reunião que realizada nesta quarta-feira.
Desaceleração
Apesar da preocupação do mercado, o governo tem minimizado as análises de que a economia brasileira estaria superaquecida.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse na semana passada que a economia já está "dando sinais" de desaceleração, referindo-se a alguns indicadores do 2º trimestre.
A produção industrial, que chegou a registrar uma expansão de 3,4% em março, apresentou um recuo de 0,7% no mês de abril.
De acordo com Mantega, o país estaria voltando para o "curso normal e sustentável de um crescimento de 5,5% a 6% no final do ano".