Um estudo mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) constatou que a produção científica brasileira cresceu mais lentamente que a economia do país.
"Entre 2002 e 2008, a intensidade do gasto doméstico bruto em P&D [pesquisa e desenvolvimento] aumentou em apenas 10%, de 0,98% para 1,09% do PIB [Produto Interno Bruto]. No mesmo período, o PIB aumentou em nada menos que 27%, de R$ 2,4 trilhões para R$ 3 trilhões", diz o relatório.
Pela primeira vez, o documento da Unesco sobre a ciência mundial dedica um capítulo exclusivamente para o Brasil. Os autores são o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, e Hernan Chaimovich, diretor executivo da Fundação Butantan.
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No relatório, a Unesco menciona que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não alcançou a marca de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para investimento em pesquisa e desenvolvimento, como havia anunciado em 2003, no primeiro mandato.
De acordo com o relatório, o Brasil precisaria investir um adicional de R$ 3,3 bilhões – quase três orçamentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – para alcançar a média de financiamento público em pesquisa e desenvolvimento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que agrupa as principais potências econômicas do mundo.
Os gastos governamentais com ciência e tecnologia, em junho deste ano, correspondiam a 0,59% do PIB brasileiro – 15% a menos que a média dos países da OCDE. O setor público arca com 55% dos investimentos no setor.
Quando a comparação é feita com os gastos dos empresários em pesquisa e desenvolvimento, a diferença é maior. No Brasil, a participação da iniciativa privada equivale a 0,48% do PIB, contra a média de 1,58% da OCDE.
"Esse hiato evidencia um dos principais desafios para o sistema brasileiro de inovação nacional: criar as condições necessárias para um aumento na participação dos gastos empresariais com P&D da ordem de pelo menos três vezes, para que se possa alcançar uma taxa comparável à média da OCDE", afirma a Unesco.
O relatório mostra que o Brasil aumentou os investimentos no setor nos últimos anos, o que proporcionou ao país liderar entre os vizinhos latino-americanos. Segundo o levantamento, em 2008, os gastos em P&D somavam US$ 23 bilhões, montante semelhante ao da Espanha e ao da Itália. Em 2008, os cientistas brasileiros publicaram 26.482 artigos em periódicos internacionais, fazendo com que o país se tornasse o décimo terceiro produtor de ciência no mundo.
Porém, o relatório diz que o Brasil ainda não conseguiu transformar o gasto em P&D em resultados práticos tal como os dois países europeus. Esse cenário ocorre, entre outras causas, pela falta de acesso ao capital devido às altas taxas de juros, problemas de logística e sistema de educação deficiente com baixa formação de trabalhadores qualificados. Esses são os desafios que o país tem para os próximos, segundo cientistas e empresários que investem em inovação.
O documento traz outras características do cenário brasileiro. Cerca de três quartos dos pesquisadores estão nas universidades. De acordo com a Unesco, a concentração de pesquisadores no setor acadêmico do país é uma das explicações para a pouca interação entre as universidades e o setor empresarial e para a baixa produção da iniciativa privada.
Mais de 90% dos artigos científicos publicados são provenientes das universidades públicas. Para se ter uma ideia, apenas sete delas foram responsáveis por 60% dos artigos publicados fora do país no ano passado. Em 2009, os empresários brasileiros registraram apenas 103 patentes no escritório norte-americano de propriedade industrial (USPTO), número inferior ao de cinco anos atrás, quando o empresariado brasileiro registrou 106 patentes.
"Mesmo considerando que o Brasil está muito à frente dos seus vizinhos latino-americanos nesse indicador, o país é como um anão em comparação à Índia", país que, em 2009, registrou 679 patentes, conforme indica o estudo.
O relatório da Unesco é divulgado a cada cinco anos, no Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento.