Com a possível construção de novas represas e projetos de mineração, atualmente em discussão no Congresso Nacional, diversos ecossistemas em todo o Brasil poderão sofrer graves impactos ambientais e sociais. O alerta foi feito por um grupo de pesquisadores brasileiros e britânicos, em um estudo publicado na edição de ontem na revista Science.
O artigo, intitulado 'Mineração e Barragens Ameaçam a Liderança Ambiental do Brasil', foi elaborado por cientistas ligados à Rede Amazônia Sustentável, que agrega mais de 30 instituições de pesquisa.
De acordo com mapeamento feito pelos autores, várias das áreas de interesse para mineração, assim como os locais onde há projeto de represas, se sobrepõem a áreas protegidas, como parques nacionais, reservas biológicas e terras indígenas.
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De acordo com eles, os projetos poderão ser viabilizados graças a esforços orquestrados pelo governo federal e pelo Legislativo para apoiar os setores de mineração e energia, o que inclui alterações na legislação.
Segundo a autora principal do estudo, a cientista Joice Ferreira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as iniciativas para mitigação do dano ambiental dos projetos de infraestrutura têm sido tão inadequadas que a aprovação de parcela das concessões para mineração teria impactos enormes, especialmente nos ecossistemas mais ameaçados.
"As propostas de mitigação são insuficientes, porque não levam em conta os impactos indiretos. Esses projetos envolvem o crescimento populacional e abertura de estradas, que comprovadamente abrem novas fronteiras de desmatamento."
Segundo Joice, o Brasil, que possui mais áreas protegidas no mundo, conquistou nos últimos 20 anos um papel de liderança ambiental mundial que poderá ser comprometido com a aprovação dos projetos.
"Não somos contra o desenvolvimento do Brasil a partir de seus recursos naturais. Mas estamos fazendo um apelo ao governo para que não jogue fora essa liderança ambiental em nome de um ganho a curto prazo. É possível conciliar desenvolvimento e sustentabilidade."
De acordo com o estudo, em todo o Brasil há 1,65 milhão de quilômetros quadrados de áreas registradas com interesse para mineração, que se sobrepõem a cerca de 20% das áreas de proteção e de terras indígenas. Além disso, a maioria dos sistemas hídricos associada às áreas protegidas será influenciada pela construção de novas usinas hidrelétricas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.