A surpreendente queda de 2% da produção industrial em setembro ante agosto deve fazer com que o PIB do terceiro trimestre caia 0,2% em relação ao período anterior e que a inflação convirja para a meta em 2012, comentou o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. "Não está afastada a hipótese do Brasil passar por uma pequena recessão técnica no segundo semestre deste ano, pois prevemos que o PIB no quarto trimestre deve apresentar expansão nula, mas devido à desaceleração do nível de atividade no País, pode ficar negativo. O Brasil está num processo entre soft e o hard landing, mais provável que ocorra o primeiro cenário", disse. A consultoria previa que a produção do setor manufatureiro apresentasse queda de 0,6% em setembro, na margem.
De acordo com Borges, os dados da produção industrial indicam que o PIB deste ano deve ficar ligeiramente inferior a 3%. Antes da divulgação dos números de hoje, ele esperava que o País crescesse 3% em 2011. Agora avalia que a taxa deve ser de 2,9% ou 2,8%. "Um PIB menor deve colaborar para que a inflação seja menos vigorosa no próximo ano e indica que o Banco Central tem razão ao avaliar que a tendência do IPCA é declinante e deve convergir à meta em 2012", disse.
A LCA, há duas semanas, mudou a sua previsão para o IPCA no próximo ano, de 5,4% para 5,2%, mas depois dos últimos dados econômicos, inclusive de produção industrial, passou a prever que o índice deve fechar o ano que vem ao redor de 5%. "Fatores de desaceleração no nível de atividade, mais a revisão metodológica da POF pelo IBGE, que em nossa simulações deve diminuir o IPCA no próximo ano entre 0,15 e 0,20 ponto porcentual, indicam que é possível que o IPCA fique perto de 4,8% no ano que vem, o que é muito próximo dos 4,7% projetados pelo Banco Central".
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Segundo Borges, alguns fatores podem explicar a intensidade da desaceleração da economia brasileira nos últimos meses. Além da alta dos juros em 1,75 ponto porcentual de janeiro a julho pelo Banco Central, aliada a medidas macroprudenciais para redução do ritmo de expansão do crédito, um fator adicional importante surgiu em meados deste ano, que foi o recrudescimento da crise internacional. "Como a crise enveredou para um nível muito delicado, com risco de insolvência de países na Europa, o sistema econômico mundial é afetado em cheio, pois famílias e empresas adiam consumo e investimento em função de incertezas sob as perspectivas de evolução da geração de emprego e incremento da demanda agregada. Fora isso, houve um credit crunch de bancos na Europa, o que limitou de forma extraordinária a concessão de crédito", comentou. "Esse espírito de dúvidas gerais afetou a população e as companhias no Brasil.", afirmou.
Borges lembra que a produção industrial de bens de consumo caiu 2,9% em setembro ante agosto, o pior dado desde final de 2008, e mais fraco do que o recuo de 2% de agosto ante julho. Lembrou ainda que a produção de bens de capital, segundo o IBGE, caiu 5,5% em setembro ante agosto, o que indica menor apetite de empresas para ampliarem a formação bruta de capital fixo. Em função desses dados, Borges ressaltou que a média móvel trimestral da produção industrial vem apresentando retração, pois subiu 0,1% em julho, caiu 0,3% em agosto e apresentou evolução negativa de 0,6% em setembro.
Diante do quadro de desaceleração do nível de atividade, Borges estima que o Banco Central corte a Selic para 10% até março, em mais três cortes de 0,50 ponto porcentual cada um. A avaliação do Banco Central, especialmente do presidente Alexandre Tombini, de que a crise internacional geraria efeitos substanciais de diminuição no nível de atividade do Brasil e que fez com que ocorresse uma inflexão na política monetária em 31 de agosto, mostrou-se uma estratégia correta. "O presidente do BC voltou da reunião da reunião de Jackson Hole, nos EUA, no final de agosto, com informações importantes sobre a perspectiva da economia mundial, que eram desconhecidas por grande parte do público e do mercado", disse.