O jornal americano Wall Street Journal diz em sua edição desta terça-feira (27)que o entusiasmo com a rápida recuperação da economia brasileira depois da crise global se tornou algo mais ameaçador: o medo de que a economia esteja superaquecendo.
De acordo com o jornal, a perspectiva é de que o Banco Central aumente a taxa de juros já nesta quarta, com o objetivo de chegar a 11,75% até o fim do ano, em uma tentativa de controlar a inflação.
"A situação do Brasil ressalta como o destino dos mercados emergentes e desenvolvidos estão divergindo", afirma o WSJ. "O FMI prevê que as ‘economias avançadas’ vão expandir até 2,25% em 2010 e até 2,5% em 2011, depois de queda de mais de 3% no ano passado."
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"O crescimento nos países emergentes e em desenvolvimento está projetado para superar 6,25% ao ano no mesmo período, depois de um crescimento mais modesto de 2,5% no ano passado."
O jornal afirma que apesar de a previsão de crescimento do Brasil ser de 5,5% para este ano, alguns analistas acreditam que esta taxa pode chegar a 7%.
Segundo o jornal, isso provocou a pouco comum situação em que países emergentes estariam tentando frear a entrada de capital estrangeiro, que teria crescido durante a crise financeira.
Análise
"O rápido crescimento e o aumento das vendas normalmente são coisas boas para países em desenvolvimento tentando tirar milhões da pobreza e levá-los à classe média. A preocupação é que as taxas de crescimento estejam estimulando a inflação, há muito tempo o calcanhar de Aquiles das economias ricas em commodities, como a do Brasil."
Mas o jornal lembra que a alta da taxa de juros também pode ter efeitos colaterais indesejados. "Investidores globais estão cada vez mais pegando dinheiro emprestado a uma taxa próxima a 0% em dólares, graças à postura agressiva do Banco Central Americano, e investindo este dinheiro em mercados emergentes para colher lucros mais altos."
Isso poderia fazer com que a moeda dessas economias se valorizasse muito rápido, potencialmente criando uma bolha em alguns setores, como o imobiliário, por exemplo.
"O dilema fez com que o FMI, que no passado era firmemente contra impor controles sobre o fluxo de capital, reconsiderasse sua visão", diz o WSJ.
O jornal afirma que o Brasil deve agir rápido, em parte por causa de sua longa história de ciclos de crescimento e quebras.
"Economistas e operadores da bolsa esperam que o Banco Central aumente a taxa de juros na quarta-feira pela primeira vez desde setembro de 2008", diz o diário, lembrando, no entanto, que para alguns economistas, a preocupação com a inflação não deve ser exagerada.
"A economia brasileira estava crescendo muito rapidamente antes da crise global e, segundo o economista de Capital do Barclays Marcelo Salomon, as pressões inflacionárias ainda não são tão fortes como eram antes da crise."
O jornal lista os estímulos do governo para aquecer a economia brasileira durante a crise afirmando que, apesar de terem ajudado o país a não sofrer tanto com a crise, eles agora poderiam estar contribuindo para o aumento da inflação.
"Mas com as eleições presidenciais em outubro, o governo não deve tirar o pé do acelerador", afirma o diário, lembrando que a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, está se apoiando na expansão dos projetos sociais e de infra-estrutura durante o governo Lula para tentar se eleger.
"O aumento da taxa de juros é politicamente impopular em um país onde a taxa de juros de bancos privados normalmente chegam a 42% ao ano", diz o WSJ, ressaltando que o fato de o Banco Central ter conseguido baixar esta taxa mantendo a inflação sob controle ajudou a aumentar a popularidade do governo.