A receita das quatro maiores montadoras na América do Sul, que tem o Brasil como maior produtor de carros, encolheu quase 50% em dois anos. Passou de US$ 32 bilhões no primeiro semestre de 2013 para US$ 17 bilhões em igual período deste ano. O lucro de US$ 651 milhões registrado há dois anos se reverteu em prejuízo de US$ 892 milhões entre janeiro e junho. Se for levado em conta os resultados até setembro, a perda é ainda maior.
Segundo dados obtidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen tiveram suas receitas individuais reduzidas na região. A maior perda, de 49%, foi da Volkswagen, cujo montante caiu de US$ 11,8 bilhões em 2013 para US$ 6 bilhões. Na sequência vem GM, com queda de 47,5%, de US$ 8 bilhões para US$ 4,2 bilhões na primeira metade deste ano.
A redução da receita da Fiat foi de 45%, de US$ 6,9 bilhões para US$ 3,8 bilhões, e da Ford de 43,3%, de US$ 5,3 bilhões para US$ 3 bilhões. Não há dados que indiquem a parcela do Brasil nesses resultados, mas, em vendas, a representação é majoritária. A Fiat tem cerca de 80% das vendas na América do Sul concentradas no mercado brasileiro. Para GM e Volkswagen, a participação é de 70%, enquanto para a Ford é de 60%.
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O lucro medido pelo Ebit (antes de juros e tributos) saiu de US$ 516 milhões no primeiro semestre de 2013 para um prejuízo de US$ 160 milhões nas operações da Fiat na região neste ano. A GM ganhou US$ 16 milhões há dois anos, e em 2015 perdeu US$ 358 milhões. Já a Ford, que obteve lucro de US$ 119 milhões, agora contabiliza prejuízo de US$ 374 milhões. Nesse item não há números disponíveis da Volkswagen. Os dados não foram confirmados pelas fabricantes.
Ociosidade
"O uso da capacidade instalada da indústria automobilística brasileira está em torno de 50% e toda empresa que opera abaixo de 70% de utilização entra no vermelho", afirma David Wong, consultor sênior da ATKearney. "O Titanic está vindo e está difícil freá-lo".
O presidente da General Motors América do Sul, Jaime Ardila, lembra que, em 2014, a indústria já começava a dar mostras de lentidão em vários países da região, especialmente no Brasil. As vendas totais de veículos na região caíram 10% ante 2013.
Neste ano, o Brasil deve fechar o ano com redução de 27% nas vendas na comparação com 2014. Na Argentina, o recuo será de 20%, na Colômbia de 12%, no Equador de 30%, no Chile de 25%, e no Peru de 15%, prevê o executivo.
"Nossa previsão é de uma indústria de 4 milhões de unidades em 2015 para a América do Sul, o que significa uma queda de quase 2 milhões de unidades desde 2013", afirma Ardila. Ele ressalta que o impacto na receita das empresas em dólares é grande em razão da desvalorização cambial. "Não é exagero falar numa queda na receita medida em dólares de 50% nos últimos dois anos."
Investimentos
Na opinião do executivo, todos os países da América do Sul estão sofrendo o impacto da queda nos preços do petróleo e do fim do ciclo de alta das commodities provocado pelo recuo do ritmo do crescimento da China. "No entanto, os países que mantiveram uma política expansiva de gasto público mesmo depois da crise de 2008/2009, como Brasil, Venezuela e Argentina, estão em situação pior do que aqueles que souberam retirar os incentivos fiscais na hora certa e arrumaram as contas públicas."
Embora sem rentabilidade, não significa que as empresas, especialmente as quatro maiores e as marcas japonesas, estejam sem caixa, ressalta Wong. Ele acredita que investimentos em produtos não serão suspensos nos próximos anos.
Na opinião de Ardila, os investimentos em tecnologias novas e produtos devem seguir dentro do planejado "porque ficar atrás no mercado só piora a situação". Mas ele ressalta a possibilidade de empresas adotarem alguns ajustes para adiar a introdução de tecnologias e itens de alto custo "que o cliente não esteja hoje em condições de bancar, especialmente nos segmentos de carros menores." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.