Um funcionário foi demitido de uma concessionária de motos e resolveu ir às redes sociais para xingar a empresa e o chefe. Um amigo que trabalhava com ele no mesmo local curtiu a postagem e também acabou dispensado, mas por justa causa. O caso foi parar na justiça, com ganho para a empresa, por entender que a curtida de uma postagem ofensiva tem o mesmo poder de algo que tivesse sido escrito.
O caso ilustra bem o poder crescente das redes sociais no mundo corporativo, seja para o lado bom, facilitando a visibilidade na busca por uma oportunidade, seja pelo lado negativo, quando a mesma visibilidade torna público o que deveria se manter privado.
O responsável pela estratégia digital das marcas da Editora Globo nas redes sociais Cristiano Santos esteve em Londrina ministrando um curso sobre o tema e repassou algumas dicas de como se portar para ser mais visto e não escorregar para causar má impressão ao mercado de trabalho.
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Santos confirma que recrutadores estão cada vez mais utilizando as redes sociais como critério na hora de selecionar um colaborador, coletando informações antes mesmo das tradicionais entrevistas. Nos perfis, é possível identificar gostos, ideologias, posições e a forma como a pessoa se relaciona em sociedade. "Você não precisa mentir ou fazer um papel, mas tem que tomar muito cuidado com o que posta. Tem muita coisa que não é interessante compartilhar com o mundo. Quando falamos de redes sociais, estamos falando de algo que é público. Tem gente que perde oportunidade de emprego porque compartilha conteúdo que deveria ficar em nível pessoal, opiniões que não cabem a certos cargos", alerta.
A precaução vale também para quem já está inserido no mercado de trabalho. É comum ver usuários do Facebook comemorando a chegada da sexta-feira, lamentando o término do domingo ou suplicando desesperadamente por férias. "Temos vida pessoal, mas é preciso cuidado para não expor demais. Aos olhos do chefe ou da empresa, postagens deste tipo podem significar preguiça, falta de compromisso. Percebem que o funcionário está desmotivado, e isto pode resultar até em demissão. A gente sabe que todo mundo gosta de uma sexta-feira, mas guarde isto para você."
APARECENDO NO LINKEDIN
Se cuidados devem ser tomados em redes sociais mais populares como Twitter e Facebook, a preocupação é redobrada para o LinkedIn, voltado para perfis profissionais e conteúdos mais relevantes. Criada em 2003, a rede conta com mais de 400 milhões de usuários em todo o mundo, sendo mais de 20 milhões só no Brasil, terceiro mais popular, atrás de Índia e Estados Unidos.
Um em cada 20 perfis cadastrados é de recrutadores, que muitas vezes visitam e ‘espiam’ candidatos de forma anônima para não chamar a atenção.
O erro mais comum dos brasileiros, segundo Cristiano Santos, é enxergar o LinkedIn apenas como uma ferramenta de exibir currículos. Os usuários se preocupam com o chamado "perfil campeão", onde são preenchidas todas as características e habilidades do profissional, seu histórico de empresas e funções. "Mas para por aí. Tem muita gente que espera ser encontrada por um recrutador. A grande visibilidade que você vai ganhar na rede é a partir do momento em que compartilha suas expertises, conhecimentos, ou seja, conteúdo", orienta.
Para dar ênfase a esta característica, o LinkedIn adquiriu a startup Pulse em abril de 2013 por US$ 90 milhões. Com a ferramenta, é possível criar uma espécie de blog, publicando vídeos, fotos e textos próprios sobre histórias da carreira, lições de empreendedorismo e outros assuntos do mundo corporativo. "Tudo isto ajuda a criar uma reputação digital e, como consequência, pode render até convites para emprego. Por isto o grande passo, depois de criar um perfil e conectar-se às empresas, é investir no conteúdo."
Como tudo nas redes sociais, o LinkedIn também tem suas ressalvas. O especialista em redes sociais orienta para o risco de, na busca por uma vaga no mercado de trabalho, querer vender uma imagem de quem você não é.
"A gente está falando de uma rede social profissional. Portanto, seja profissional, fale a verdade e trabalhe um conteúdo com coerência. Não adianta nada colocar um monte de informação ali simplesmente para aparecer. Depois você é chamado para uma entrevista e vão perceber que aquilo tudo é fachada, e fica muito pior. Como em qualquer rede social, seja autêntico, sincero, fale daquilo que você entende e fale bem. Pode ter certeza que isto vai dar resultado".