A gaúcha Lojas Renner anunciou nesta segunda-feira (4) a compra da rede de utilidades domésticas paulista Camicado por R$ 165 milhões, incluindo R$ 8 milhões em dívidas. A empresa familiar, nascida na Rua 25 de Março, centro de comércio popular de São Paulo, tem 27 unidades em shoppings em seis Estados e no Distrito Federal. O negócio ainda depende de aprovação em assembleia extraordinária de acionistas, a ser realizada no início de maio.
O negócio é visto como a porta de entrada da Renner no mercado de produtos do lar, um mercado com potencial de consumo de R$ 15,7 bilhões por ano no Brasil. A Camicado, que tem 800 funcionários, faturou R$ 153,1 milhões no ano passado. Em termos de preço, as lojas em shoppings se situam no meio da pirâmide de renda, com valores praticados comparáveis aos de Tok&Stok e MMartan, segundo comunicado da Renner.
Além das unidades em shoppings, adquiridas pela Renner, a empresa fundada por Minolu Camicado - um filho de japoneses de 55 anos - também mantém sete unidades na 25 de Março, que deverão ficar de fora do acordo, conforme apurou o Estado. Essas unidades, que foram a gênese da Camicado e funcionam no modelo atacarejo, vendem, além de utilidades domésticas, itens populares como produtos para festas e brinquedos.
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Embora a Camicado fosse citada por fundos de private equity e bancos como um potencial alvo de fusão ou aquisição, o acordo com a Renner pegou o mercado de surpresa. Ainda ontem, um fundo de private equity ligado a um grande banco brasileiro relatava a outra empresa do setor seu interesse pela Camicado - tudo sem desconfiar das negociações com a rede gaúcha de departamentos.
Segundo especialistas em varejo, o negócio faz sentido para a Renner, gigante que fechou o ano passado com receita de R$ 2,75 bilhões e 134 lojas. Em 2010, a empresa lançou um modelo de unidades compactas, com o objetivo de elevar o número de pontos de venda com a bandeira Renner para 250 até o fim de 2014.
As ambições da companhia aberta para a nova marca são expressivas, segundo o sumário da operação, divulgado na noite de ontem. A Renner pretende elevar o número de unidades Camicado para 100, em 2015, e para 125, em 2020. As duas operações devem ser mantidas separadas.
Empresa familiar, a Camicado começou a abrir espaço à profissionalização em 2010, com a contratação da executiva Ângela Hirata, conhecida pela internacionalização da Havaianas. Ela assumiu uma das vice-presidências. O fundador continuou na presidência, dividindo a gestão com as irmãs Maria, responsável pela operação das lojas na 25 de Março, e com Mariê, que comandava as lojas de shopping.
Complementar
Para Eugênio Foganholo, da consultoria em varejo Mixxer, a compra da Camicado é uma forma de a companhia expandir sua atuação para um setor em que já atuou no passado. "Quando a Renner era efetivamente uma loja de departamentos, trabalhava com utilidades domésticas. Agora, com o aumento da renda e do interesse por decoração, pode ser a hora certa de retornar ao segmento", diz o especialista.
Segundo ele, não existe nenhuma grande empresa focada no setor de utilidades domésticas, setor atendido principalmente pelos hipermercados. A única rede de alguma escala especializada no setor era justamente a Camicado. "Acho que a marca atende bem às classes B e C. O público da Camicado é o mesmo da Renner. O consumidor que vai a uma loja vai também à outra."
Fatia do bolo
R$ 15,7 bi
é o potencial de consumo no setor de produtos de decoração no Brasil, de acordo com
comunicado da Renner
Para entender
Com o consumo das famílias impulsionando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País, os fundos de private equity estão de olho nas empresas ligadas ao varejo. Executivos de fundos disseram ao Estado que o interesse pela Camicado era grande porque se trata de uma empresa de porte relativamente pequeno, posicionada em um setor pouco explorado e com grande potencial de crescimento, especialmente entre os consumidores "emergentes" da classe C. Na mesma situação de assédio, dizem fontes da área de private equity, está atualmente a Zelo, rede de artigos de cama, mesa e banho que faturou R$ 320 milhões no ano passado e tem cerca de 40 unidades no País.