A vice-representante comercial dos Estados Unidos, Miriam Sapiro, deve viajar ao Brasil na próxima semana para negociar uma maneira de evitar as medidas de retaliação comercial anunciadas pelo governo brasileiro contra produtos americanos.
Segundo fontes diplomáticas e que acompanham as negociações, Sapiro deverá participar de reuniões no Ministério de Relações Exteriores na próxima quinta-feira.
"Esperamos que ela leve bem mais do que foi apresentado nas últimas conversas (entre representantes dos dois países)", disse à BBC Brasil o diretor-executivo do US Brazil Business Council, Steven Bipes.
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A viagem da representante americana ocorre poucos dias antes da data prevista para que a retaliação brasileira entre em vigor, em 7 de abril.
Proposta
Desde que anunciou as medidas retaliatórias, em 8 de março, o governo brasileiro vem afirmando esperar uma proposta dos Estados Unidos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a pedir, em um discurso em São Paulo, que o governo de Barack Obama negociasse "rapidamente" uma solução.
Até o momento, no entanto, Washington não apresentou propostas concretas que possam evitar a retaliação, autorizada pela Organização Mundial do Comércio (OMC), por conta dos subsídios concedidos pelo governo americano a seus produtores de algodão.
A retaliação brasileira inclui uma lista de 102 produtos americanos que deverão pagar sobretaxa para entrar no Brasil, num valor total de US$ 591 milhões (cerca de R$ 1 bilhão).
No último dia 15, Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, publicou uma consulta pública sobre a possível suspensão de direitos de propriedade intelectual de uma segunda relação de produtos americanos.
Esses produtos seriam alvo da chamada retaliação cruzada, em um valor adicional de US$ 238 milhões (cerca de R$ 433 milhões), totalizando assim os US$ 829 milhões (R$ 1,5 bilhão) autorizados pela OMC.
Subsídios
A mudança no regime de subsídios aos produtores de algodão dos Estados Unidos depende de autorização do Congresso, o que levaria tempo e enfrentaria resistência de vários setores americanos.
No entanto, a expectativa é de que os Estados Unidos apresentem ao Brasil uma proposta para impedir a retaliação imediata e ganhar tempo até uma solução definitiva.
"Acreditamos que essa reunião possa ao menos sinalizar uma vontade do governo e do Congresso americano de negociar", disse Bipes.
Segundo o diretor de Política de Comércio Internacional da Associação Nacional dos Manufatureiros dos Estados Unidos, Doug Goudie, a expectativa do setor industrial americano é de que a reunião da próxima semana abra caminho para uma negociação de longo prazo.
"Esperamos que os Estados Unidos dêem ao Brasil uma ‘prova de vida’, ou seja, apresentem alguma proposta que evite a retaliação e permita a continuação de negociações mais amplas para uma solução de longo prazo", disse Goudie.