Vestir a roupa do bom velhinho e assumir o espírito natalino no mês de dezembro pode render até R$ 15 mil no mês para quem tem tempo e disposição. O estadão.com.br conversou com três pessoas que decidiram aproveitar essa época do ano para aumentar a renda. Para todos ele, o ganho obtido nessa época foi suficiente para complementar o orçamento do ano todo.
Domingos Agatão, de 59 anos, é Papai Noel há quase duas décadas. O representante de vendas começou por necessidade financeira, já que estava desempregado na época. "Eu não me via sentado num trono. Mas eu precisava sustentar meus dois filhos". Hoje, sua situação financeira é estável frente aos ganhos batendo na casa dos R$ 15 mil nessa época.
No começo, fez testes com barba postiça - segundo ele, um ponto negativo, pois as empresas preferem os candidatos com semelhança natural - e conseguiu uma vaga em um shopping de pequeno porte. A cada Natal, ele tentou se aproximar mais da imagem do personagem e, o que era obrigação, tornou-se prazer. Hoje, com uma barba natural que começa a cultivar no início de maio, raspando-a só depois do término das festas, no dia 25, ele é titular absoluto do trono vermelho do Shopping Center Norte há 2 anos.
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"A gente acaba se transformando. Porque, no fim das contas, você é aquilo que você faz", afirmou seu Agatão.
Com Claudio Altruda, de 71 anos, a escolha foi diferente. Ele tornou-se Papai Noel por admiração, embora não tenha negado a importância desse trabalho no seu orçamento anual. "Não dá para se viver só com a aposentadoria. É muito pouco. Meu salário como Papai Noel é uma complementação: com ele consigo viver o resto do ano". Ele lembra de um colega que, num único comercial, recebeu "a bolada de R$ 12 mil".
Contador aposentado, ele explica que sempre ficou maravilhado com a entrega dos presentes na empresa onde trabalhava. "Adorava ver a reação das crianças, todas contentes, com olhos brilhando, na entrega dos presentes. Devia ser muito gratificante!". A partir de então, resolveu fazer o mesmo: inscreveu-se em seleções e conseguiu seu primeiro trabalho no ABC.
Assim como Agatão, o ex-contador não tinha barba. Mas, ao contrário do Papai Noel do Center Norte, o bom velhinho do shopping Pátio Higienópolis a cultiva de dezembro a dezembro. "Daí fica difícil me desvencilhar do que faço. Na rua, as pessoas vivem mexendo comigo. 'olha lá, o Papai Noel!'", acrescentou Altruda.
"Mas me desvencilhar para quê? Tanto faz estar ou não vestido de Papai Noel: o seu Claudio é a mesma coisa com ou sem a fantasia", concluiu, reforçando o quanto as suas duas identidades se mesclaram praticamente numa só.
Contaminados
A identidade de Papai Noel pode extrapolar o período natalino. Os traços ficam tão fortes e a afinidade tamanha que pessoas como Altruda e Agatão acabam levando um pouco do personagem durante o restante do ano.
Há 20 anos como Papai Noel em Araras, interior de São Paulo, Francisco Garcia, de 71 anos, além da barba permanente, carrega resquícios de sua segunda personalidade no bolso. O toque do celular é programado com uma música natalina no ano todo. Também no bolso, tira seu cartão a cada vez que tem de se apresentar: "Francisco Garcia: Papai Noel", com telefone e endereço.