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Setor automotivo ainda não vê efeitos de estímulos do Banco Central

Agência Estado
08 set 2014 às 21:28

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O efeito das medidas anunciadas mês passado pelo Banco Central (BC), com foco principal no aumento da concessão de crédito para a compra de automóveis, ficará mais para o fim do ano, segundo executivos do setor, que pintaram um quadro pessimista no seminário na Firjan, no Rio, nesta segunda-feira (8). Além das restrições de crédito, a fraqueza geral da atividade econômica, a crise na Argentina e os problemas estruturais de competitividade da indústria nacional ameaçam o setor automotivo no País.

"Esse choque de liquidez só começou a operar na última semana de agosto", destacou Luiz Moan, presidente da Anfavea, entidade que representa a indústria automobilística, para justificar o fato de os efeitos ainda não estarem sendo sentidos.

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Para o executivo, é uma questão de tempo, pois alguns bancos já começaram a baixar suas taxas de juros em de 30% a 35% e algumas carteiras de crédito de instituições de médio porte já começaram a ser compradas. Um dos objetivos das medidas do BC foi facilitar a compra de carteiras dos bancos médios pelos maiores, operação importante para dar liquidez no segmento de financiamento de automóveis e, portanto, facilitar os empréstimos aos consumidores.

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"O importante é começar com as medidas. No mundo todo, as vendas de automóveis dependem de crédito e havia uma contenção muito grande na concessão de financiamentos", afirmou Moan, no intervalo do seminário, organizado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do governo estadual do Rio.

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A Nissan e a PSA Peugeot Citröen, montadoras cujas fábricas ficam no Rio, na região do Vale do Paraíba, ainda não viram os efeitos das medidas do BC. "Essas medidas vão ajudar pouco a sensibilizar o consumidor final. Elas terão alguns reflexos positivos para os concessionários", disse Carlos Gomes, presidente da PSA.


Durante o seminário, Gomes classificou de "conjunturais" medidas de incentivo ao consumo, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). "Estímulos sempre antecipam uma demanda que viria no futuro. As vendas aumentam antes, mas caem depois", disse.

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O problema é que os carros no Brasil são caros demais, por causa de impostos e custos de produção muito elevados. "O carro brasileiro é o mais taxado do mundo e não tem por quê", afirmou François Dossa, presidente da Nissan, que inaugurou sua primeira fábrica no Brasil em abril, em Resende (RJ).


Já a crise na Argentina impacta apenas a PSA, uma das três maiores montadoras no mercado vizinho, pois a Nissan não exporta a partir do Brasil. Gomes não deu uma projeção do quanto a produção ou as vendas para o país vizinho podem cair neste ano, mas destacou que o mercado argentino cairá de 925 mil unidades em vendas para 650 mil unidades vendidas este ano.

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"Neste momento, a questão argentina continua a agravar-se. Há um sinal de luz com o anúncio de acordo com a China, mas hoje a agente não consegue responder pelo fim de 2014, quanto mais sobre 2015", disse Gomes, referindo-se ao acordo para o reforço de reservas cambiais em US$ 11 bilhões, entre Argentina e China.


A crise argentina afeta também as exportações da MAN Latin América, fabricante de caminhões, mas o problema maior é o tombo na atividade econômica e nos investimentos no Brasil. Segundo Marco Saltini, diretor de relações governamentais e institucionais da empresa, a MAN exporta cerca de 12% de sua produção. Se a queda nas exportações para a Argentina pode atrapalhar os negócios, no mercado nacional a perspectiva é de queda de 25% neste ano na produção total de caminhões, para 130 mil unidades.

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"A gente tinha uma expectativa no início do ano que o mercado ia crescer 5%, mas ele vai encolher 25%", afirmou Saltini. A MAN tem 27% de participação no mercado nacional.


Apesar do pessimismo, as montadoras não falam em novos ciclos de demissão. A MAN já adequou sua produção à nova realidade de mercado e está com estoque equivalente a 28 dias de vendas, após colocar 100 empregados em "lay-off", com suspensão temporária do contrato de trabalho. A fábrica suspendeu os contratos de outros 200 funcionários no início do ano, mas eles decidiram deixar a empresa, como mostrou o jornal "O Estado de S.Paulo" mês passado.


O mesmo ocorreu com 650 empregados da PSA Peugeot Citröen. Gomes descartou demissões neste ano.

Já Saltini, da MAN, demonstrou apreensão com o cenário, sobretudo por causa da estagnação da economia. Perguntado se dá para chegar ao fim do ano sem demissões, o executivo respondeu: "A expectativa é que a gente chegue ao fim do ano vislumbrando um mercado um pouco melhor e que a gente retome esse pessoal".


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