A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, diz que não tem "nenhuma vocação feminista" e rejeita o estabelecimento de cotas para mulheres em empresas.
O que precisa ser combatido para promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho é o preconceito, afirma em entrevista à BBC Brasil.
Foster participou do fórum de debates promovido pela ONU Mulheres durante a Rio+20 e foi aplaudida pela plateia feminina ao lembrar que é a primeira mulher a presidir uma das cinco maiores empresas de energia do mundo.
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"Nós, mulheres, devemos ficar atentas ao preconceito contra as diferenças. A diversidade de raças e gêneros nas empresas é indutora da criatividade e faz a diferença em relação à concorrência", diz.
No painel, Foster afirmou que o empoderamento da mulher contribui para tornar a sociedade "ainda melhor" e ressaltou que hoje as mulheres são mais de metade da força de trabalho brasileira - e têm obtido melhores coeficientes de rendimento nas universidades.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista à BBC Brasil
BBC Brasil - Como mulher, que mensagem a senhora acha importante transmitir neste na Rio+20?
Graça Foster - A diversidade de gênero é extremamente saudável e positiva. E faz a diferença. Nos negócios, é importante ter opiniões diferentes, com a mulher e o homem à mesa de discussão.
Eu sou uma mulher de negócios. Não sei falar de outra coisa que não seja geração de riquezas em cima de investimentos que são feitos.
Não tenho absolutamente nenhuma vocação feminista. Nao crio valores como, por exemplo, cotas para mulheres, sou completamente contrária a esse tipo de discriminação positiva a favor da mulher. Acho que ela é negativa em relação aos empreendimentos.
BBC Brasil - O que falta para haver uma igualdade maior de gênero no mercado de trabalho?
Graça Foster - Uma perseguição ao preconceito. Sou completamente contra o preconceito. Acho que ele é perverso e tem uma capacidade muito grande de destruir valor dentro das corporações.
Na Petrobras, a diversidade é um valor da companhia e não aceitamos qualquer tipo de preconceito dentro da corporação. Entendo que isso seja um bom começo. Só admitimos por concurso.
A indústria do petróleo é masculina, porque são ambientes hostis, lugares que as mulheres tradicionalmente evitam pelo desconforto.
Mas a Petrobras não tem, hoje, qualquer restrição à admissão de mulheres nos quadros, como teve à minha época. Eu tenho 33 anos de empresa, e lá atrás você não podia fazer concurso para todas as áreas da Petrobras. Há muito tempo já não temos mais essa restrição.
BBC Brasil - No mercado de petróleo, como se compara a abertura à mulher hoje com o que você viveu quando começou?
Graça Foster - Havia muito menos mulheres do que hoje. A Petrobras Holding tem 62 mil funcionários, e essa força de trabalho tem 16% de mulheres e 84% de homens. À minha época, eram 5% mulheres e 95% homens.
É um processo (de mudança) lento, e a motivação maior para isso é muito simples. Hoje há mais mulheres nas universidades no Brasil do que homens, e elas concluem seus cursos com coeficiente de rendimento maior do que dos homens. E conseguem um nível de aprovação bastante alto nas empresas.
BBC Brasil - Você é a primeira mulher presidente da Petrobras. Você imagina que o quadro de funcionários pode chegar a 50-50?
Graça Foster - Não, não imagino. No curto prazo não, e nem no médio. Porque há muito menos mulheres na Petrobras. Não é uma questão de "você não pode porque você é mulher". É porque há muito mais homens tendo a oportunidade de demonstrar o seu trabalho do que mulheres.
Isso é uma questão de tempo. Eu não sei se precisamos de 10 anos ou 20 anos. Nada impede que a próxima (presidente) seja mulher também. Mas se você olhar estatisticamente, a probabilidade é que tenhamos mais homens presidentes da Petrobras no curto prazo.
Quando eu olho para trás, em todas as carreiras que eu ocupei desde que eu entrei (na empresa), desde a minha primeira gerência como chefe de setor da perfuração, sempre fui a primeira mulher. Mas depois não veio nenhuma mulher. Isso é que me preocupa. Nunca fui substituída por uma mulher. Mas é uma questão estatística, e não de preconceito da Petrobras.