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Otimismo do cenário econômico não é definitivo

Redação - Folha do Paraná
14 jan 2001 às 17:12

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O economista José Moraes Neto, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador do Instituto Paranaense de Desenvolvimento e Planejamento (Ipardes) assumiu a presidência do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon) no último dia 2 de janeiro. Ele compartilha das análises econômicas de que o cenário para 2001 é de otimismo tanto para o Brasil como para o Paraná. Mas lembra que o País ainda não solucionou seu problema do balanço de pagamentos, que é o desafio a ser vencido. Sem uma reversão do déficit da balança comercial e de pagamentos, Moraes Neto adverte que o Brasil deverá enfrentar nova crise a médio prazo.

Na análise da economia estadual, Moraes Neto lamenta que a opção do governo estadual seja pela venda de patrimônio para equilibrar suas contas. Na sua opinião, existem alternativas que poderiam evitar a venda das ações da Copel.

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Qual o cenário para as economias do País e do Estado este ano?

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Moraes Neto - Todos os indícios apontam para um ano de economia tranqüila, sem nenhuma perspectiva de crise no curto prazo. A economia do País deverá ter crescimento econômico de até 4%. No Paraná o crescimento econômico deve ser superior à média nacional em função da entrada em maturação dos projetos industriais com a instalação do pólo automotivo. Essas indústrias devem atingir a plenitude de sua capacidade produtiva este ano.

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A vinda de novas indústrias e o crescimento econômico será capaz de acabar com o desemprego?


Moraes Neto - Para reduzir o índice de desemprego, o País deveria crescer em taxas mais elevadas. O ideal seria crescer acima de 5% para começar a absorver os trabalhadores que chegam todo o ano no mercado de trabalho. Isso porque o padrão de segmento industrial implantado na nova economia brasileira não gera mais a mesma quantidade de empregos que gerava no padrão anterior. No início dos anos 90, um trabalhador produzia em média oito veículos na indústria automobilística. Com a instalação de plantas modernas e automatizadas, essa produtividade dobrou. Isso mostra que o impacto do crescimento econômico na geração de emprego é muito menor hoje.

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Mas a geração de emprego é a grande ansiedade da sociedade. Como fazer para solucionar esse problema?


Moraes Neto - Não podemos esperar que só o crescimento da indústria vai resolver o problema do desemprego no Brasil e no Paraná. A geração de novos postos de trabalho deverá vir pelas mãos do mercado de serviços. O setor terciário está se modernizando violentamente e a prestação de serviços na área de informática e comunicação está muito mais avançada tecnologicamente que na década de 90. Mas o setor de serviços, que tem capacidade de absorver grande parte da mão-de-obra ociosa só cresce se a indústria e agricultura crescerem.

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A economia do País ainda está vulnerável a crises externas?


Moraes Neto - Com a integração dos mercados financeiros e dos processos produtivos é difícil dizer que um país fique imune às crises de outros países, com exceção dos Estados Unidos, cuja economia é mais sólida. Mas parece que no curto prazo não temos nada que aponte para uma crise internacional que possa afetar o Brasil. A crise na Argentina está sendo resolvida e o último arranjo internacional do FMI dá um fôlego para que o país possa atravessar, pelo menos este ano, sem grandes solavancos, o que abre espaço para os ajustes e a estabilização econômica no país. Portanto, no curto prazo, está afastada uma crise na Argentina, embora nada indique que a crise no médio prazo esteja afastada.

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E aqui no Brasil, existe possibilidade de crises a médio prazo?


Moraes Neto - O Brasil tem restrições a médio prazo. Para 2001 não há nenhuma perspectiva de que o País atravessará uma crise séria que abale sua economia, a não ser a famosa aterrissagem da economia americana, que todos esperam que seja suave. Efetivamente uma recessão nos EUA é a única nuvem no horizonte que pode afetar todas as economias mundiais e consequentemente a economia brasileira. A grande restrição ao Brasil é a questão do balanço de pagamentos, que não foi resolvida. O governo fez uma desvalorização cambial no início de 1999, na tentativa de gerar um superávit na balança comercial, o que não aconteceu. Diminuiu o déficit, é verdade, mas ele ainda não foi zerado. E as primeiras notícias do balanço de pagamentos neste início de ano confirmam que o problema continua.

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Por que o problema do déficit na balança comercial brasileira ainda não é considerada grave?


Moraes Neto - Por enquanto, ainda estão entrando capitais externos para aquisição de ativos, para compra de empresas nacionais e para especular na Bolsa de Valores, o que está garantindo o equilíbrio da balança de pagamentos, que inclui a balança comercial e todo o movimento de capitais, remessa de lucros e pagamento de juros. Mas a gente não sustenta uma entrada líquida de capitais especulativos por um período longo e será difícil controlar um déficit de US$ 5 bilhões por ano. Só a compra de ativos não geram capacidade produtiva e não ajuda a resolver nossos problemas. O capital que compra ativo nem sempre significa aumento da capacidade produtiva, portanto a contribuição é bem menor. E até agora, os desequilíbrios do País têm sido resolvidos em cima desse capital.

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Por quanto tempo o País aguenta essa situação?


Moraes Neto - Por algum tempo, mas não de forma permanente. O Brasil já começou a encaminhar algumas iniciativas que poderão resolver a situação a médio prazo. Uma delas é a nova Lei de Informatica, que prevê a substituição de importação dos componentes de aparelhos de informática e de telefonia celular, que são fabricados no País.


Qual a iniciativa que deve ser adotada para reduzir o déficit do balanço de pagamentos?


Moraes Neto - O governo está acenando com a necessidade de executar um programa de substituição de importações porque a desvalorização cambial não foi capaz de resolver o problema da balança de pagamentos. A Lei de Informática encaminhada ao Congresso prevê incentivos na fabricação de componentes eletrônicos utilizados na produção de bens duráveis que a gente consome (computadores, automóveis). Outra iniciativa é ampliar o índice de nacionalização das peças utilizadas na indústria automobilística, que era de 90% e caiu para 60% em média no País. Quer dizer, tem mais peças importadas gerando empregos lá fora do que aqui dentro. Isso é uma característica do novo padrão de crescimento que pode ser revertido.


Quais as opções que o governo do Paraná tem para solucionar sua crise financeira em 2001?

Moraes Neto - Uma forma de resolver os desequilíbrios financeiros do Estado seria vender seu patrimônio. Mas pode haver outros caminhos como uma reforma fiscal ou programa de controle de gastos. Parece que a opção efetiva de fazer o ajuste é pela venda de patrimonio, ou seja vender as ações da Copel. Com isso o Estado perde a capacidade de fazer política economica ativa e fica atrelado ao governo federal, que passa a comandar a política de atração de empresas e de concessão de benefícios que estimulem crescimento em determinadas regiões. Na medida que o Estado não tem essas empresas de fomento, menor é a capacidade do estado de fazer política economica ativa no sentido de ficar independente. Os investimentos do Estado ficam restritos às suas disponibilidade orçamentárias.


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