Em reunião realizada na Procuradoria da Republica, em Curitiba, para discutir os conflitos gerados pelas expulsões de trabalhadores rurais nos projetos de assentamentos do Incra no Estado pelo Movimento dos Sem Terra (MST), o ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, admitiu que houve excesso dos dois lados e que cada caso deverá ser discutido separadamente. Já o MST afirmou que o Instituto Nacional de Colonização de Reforma Agrária (Incra) foi informado de todos os conflitos antecipadamente, e cobrou maior eficiência do órgão em resolver os problemas.
Diante do compromisso da ouvidoria, Incra e do procurador-chefe do Ministério Público Federal, Mário José Gisi, de agilizar as discussões, o MST também se comprometeu a não fazer mais expulsões dos assentamentos sem antes discutir os casos com a Procuradoria.
A reunião discutiu as expulsões de 16 famílias das Fazendas Sebastião Camargo, no município de Marilene (Região Noroeste), Contestado, na Lapa (Região Sul), Liberdade Camponesa, em Ortigueira e Dorcelina Follador, em Arapongas, ambos municípios da Região Norte. As famílias expulsas acusam o movimento de impor regras na comunidade, como a obrigatoriedade de participação em cooperativas e cobrança de taxa para manutenção dos projetos.
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Rogério Mauro, um dos coordenadores do MST, nega as acusações. Segundo ele, as expulsões só aconteceram em casos extremos. "São pessoas que sempre se negaram a aceitar as regras dos assentamentos, que foram chamadas a conversar várias vezes, mas não deu certo", diz. Segundo ele, entre os expulsos há famílias que chegaram a mentir e forjar documentos contra o MST, inclusive "mentindo" sobre o método de ensino nas escolas dos assentamentos.
Oragildo Labão, sua mulher e três filhos é uma das duas famílias expulsas da Fazenda Contestado. Ele alega que sofreu todo tipo de "perseguição e terrorismo psicológico" pelo MST porque não concordava em pagar a taxa estipulada pelo movimento. Já Ereni Vonz, casada e três filhos, expulsa da Fazenda Sebastião Camargo diz que ficou sem suas terras depois que cedeu às pressões do MST para trocar sua área por um terreno em outra Fazenda. "Não deu certo, eu fiquei sem casa e eles não me aceitam de volta", reclama.
Mauro fez questão de ressaltar que as expulsões não fazem parte de uma política nacional do MST, e que cada fazenda tem sua própria organização, definida em assembléias. "O movimento incentiva as coorpativas, cujo princípio é a livre adesão, por isso ninguém é obrigado a participar", diz.
Ele lembra, no entanto, que como qualquer organização, "como a igreja, ou um clube, por exemplo", os estatutos prevêem advertências e até expulsão nos casos muito graves. Ele também confirma que o movimento tem uma "política de contribuição", que varia conforme o assentamento. Alguns métodos são o pagamento em forma de produtos ou em percentagens de financiamentos. Estes recursos, segundo ele, são aplicados nos próprios assentamentos. "Nós queremos que as famílias sustentem a sua organização para poder andar com suas próprias pernas".