O Paraná continua pioneiro na produção de peixes cultivados, com boas perspectivas de rentabilidade. Apesar do futuro promissor, o setor está patinando com a dificuldade de encontrar linhas de financiamento bancário exclusivas para o setor. O agente financeiro ainda não vê a piscicultura como atividade rentável e que pode gerar renda para toda uma cadeia produtiva, lamenta o empresário João Carlos Mariano da Silva, diretor da Frigopeixe, indústria de filetagem de tilápia, de Toledo.
A indústria reclama da descapitaliação para investir na compra de novos maquinários que permitem o aproveitamento total do peixe. A utilização das aparas, quando a indústria faz a filetagem do peixe, e da cabeça em novos produtos seria um dos recursos para reduzir o preço final do filé nos supermercados. O preço do filé de tilápia, acima de R$ 7,00 o quilo para regiões mais distantes do Sudoeste vem sendo um dos principais entraves para ampliar as vendas.
O filé de tilápia concorre com a merluza, peixe importado da Argentina em preço embora tenha qualidade e sabor bem melhor, destaca Mariano. "Só que para a indústria conseguir abaixar o preço do filé precisa fazer o aproveitamento total do peixe", acrescenta. Uma das altenativas é a produção do fish-burguer (hamburguer de peixe) e do caldo de peixe desidratado. A frigopeixe pretende lançar esses e outros produtos, assim que tiver equipamentos adequados, admite o empresário.
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Por falta de competitividade, a indústria de filetagem de tilápia vem trabalhando com capacidade ociosa. A Frigopeixe tem capacidade de abate de 12 mil quilos de peixe por dia, que resultaria numa oferta diária de aproximadamente três mil quilos de filé. Mas a produção atual é de 30% dessa capacidade. Segundo Mariano, se aumentar a demanda por parte dos supermercados os produtores teriam condições de elevar a produção para entregar mais matéria prima para a indústria.
Por outro lado, os produtores também sentem a falta de financiamento bancário para investir no aumento da produção. Os produtores mais capitalizados, que investem na compra de ração conseguem elevar a produtidutividade acima de 30 toneladas por hectare, bem acima da média do Estado que oscila entre 2 mil a 3 mil quilos por hectare. O médico veterinário e extensionista da Emater-PR, Danilo Mulhlmann, lamenta o descaso de muitos agentes financeiros que não acreditam na atividade, deixando com isso de financiar a piscultura. De acordo com o técnico, em muitos municípios os gerentes de bancos não acreditam na rentabilidade.
O aumento da produtividade permite índices de rentabilidade na piscicultura que podem chegar até 60% quando o produto sai da propriedade. Para alcançar esse resultado, porém, o criador deve trabalhar de olho nos custos, observa o médico veterinário Masaru Sugai, da Secretaria da Agricultura do Paraná.
Apesar de ser uma atividade relativamente nova, em termos comerciais, o Paraná se destaca como um dos maiores produtores de peixe de água doce do país, ao lado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na safra 1999/2000 a produção estadual atingiu 17.112 toneladas. A produção vem se mantendo estabilizada nos últimos anos, refletindo as dificuldades que os produtores enfrentaram no setor.
O fato é que muitas questões começam a se clarear para criadores e indústrias e a atividade tem condições de se firmar como opção econômica interessante, avalia Mulhlmann. Segundo ele, os piscicultores enfrentam problemas decorrentes da falta de um pacote tecnológico de produção, como os já existentes na criação de frangos e suínos. O sistema de manejo adotado já reflete linhas de trabalho mais definidas para os produtores que o ajudam a elevar os níveis de produtividade, destaca o técnico.
A Frigopeixe por exemplo, já oferece alevinos e assistência técnica aos produtores, além de garantir a compra da produção. A indústria informa que vai avançar nesse processo com a instalação de uma fábrica de ração, insumo que pesa no custo de produção. Para elevar a produtividade, o técnico da Emater lembra que o produtor precisa investir em torno de R$ 4.800,00 a R$ 6.000,00 só na compra de ração durante um ciclo de cultivo, cujo período é de seis meses.