A Polícia Federal vai apurar as denúncias de subfaturamento na exportação de soja e lavagem de dinheiro por parte de seis cooperativas agrícolas, entre elas três do Paraná. O procurador da República, Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, do Ministério Público Federal, encaminhou ontem o pedido de abertura de inquérito policial para que a PF apure a fundo todas as denúncias e suspeitas de crimes de ordem financeira e tributária que possam ter sido cometidas nas operações de exportações de soja no País.
O pedido do procurador foi feito com base em denúncia dirigida ao Ministério Público Federal pelo grupo japonês Itochu Corporation, atual sócio majoritário da Eximcoop, trading que negociava soja e outros produtos para cooperativas brasileiras e que está em processo de falência. A denúncia foi publicada na última segunda-feira no jornal "Folha de S.Paulo" e aponta as cooperativas paranaenses Valcoop, de Londrina, Corol, de Rolândia e Copramil, de Cambará, como sócias minoritárias da Eximcoop e portanto, co-responsáveis nas irregularidades apontadas.
De acordo com o procurador, o resultado do inquérito deverá ser apresentado pela Polícia Federal entre 90 e 120 dias. Se for comprovada a existência de crimes de ordem financeira e tributária, o Ministério Público Federal vai oferecer a denúncia ao Poder Judiciário. O procurador disse que vai aguardar o resultado do inquérito policial para depois abrir investigação no MP, conforme nova estratégia que está sendo adotada em função das restrições impostas pela Medida Provisória assinada recentemente pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
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No inquérito policial, a PF deverá ouvir todas as pessoas e empresas apontadas pela denúncia da Eximcoop e vai rastrear todas as operações contábeis envolvidas com o caso. O procurador Santos Gonçalves salientou que todos os fatos mencionados na denúncia serão devidamente apurados e rastreados.
Conforme a denúncia da Eximcoop, publicada pelo jornal paulista, a antiga gestora da trading, no caso a Cooperativa dos Agricultures de Orlândia (SP) - Carol e as sócias minoritárias como as três cooperativas paranaenses e a cooperativa Copasul, de Naviraí (MS) criaram uma subsidiária, a Graincoop, em Aruba, no Caribe. Com isso, a Eximcoop passou a vender soja das cooperativas-sócias para a Graincoop, através de operações de subfaturamento. A diferença era embolsada por diretores da empresa, que pertenciam à gestão anterior, antes dela ser adquirida pelo grupo japonês Itochu Corporation que comprou 51% das ações.
O grupo Itochu apurou que foram pagos irregularmente US$ 6,6 milhões, dos quais US$ 3 milhões forma depositados diretamente pela Graincoop em contas pessoais de ex-administradores abertas em bancos no exterior. Todas essas denúncias foram apresentadas ao Ministério Público em cerca de dez volumes que envolvem aproximadamente 1 mil páginas, acredita o procurador.
O diretor-presidente da Valcoop, Enderson José Siqueira, disse que a cooperativa apontada como uma das envolvidas está tão interessada no esclarecimento das operações quanto o Ministério Público Federal. Siqueira destacou que a Valcoop era sócia minoritária da Eximcoop e nem sempre negociava a soja de seus cooperados com a trading. Além disso, a cooperativa disse que nunca exerceu a gestão na administração da trading e negociava soja com outras tradings também.
Como cooperativa minoritária da Eximcoop, que está em processo de falência, a Valcoop constituiu advogados para acompanhar o processo de extinção da trading e também está interessada em ver todos os casos apurados, reiterou Siqueira.