Produtores de hortifrutigranjeiros da Região Metropolitana de Curitiba distribuíram alface gratuitamente à população nesta segunda-feira, em frente à Assembléia Legislativa. O protesto foi contra a prática adotada pelas grandes redes de supermercados, que vendem os hortifrutigranjeiros muitas vezes a preços abaixo do custo de produção.
''Na última promoção eles venderam alface a R$ 0,05 a cabeça, enquanto o preço de produção varia de R$ 0,10 a R$ 0,12'', diz o produtor Renato Motim. Há 15 anos na atividade, ele conta que nunca viveu uma crise como a atual.
O protesto foi feito para aproveitar a presença dos representantes do Carrefour, Sonae e Wal-Mart na Assembléia. Eles foram depor na audiência da CPI dos Alimentos, que investiga as distorções existentes nas cadeias produtivas, especialmente do leite. Os produtores de leite recebem de R$ 0,17 a R$ 0,28 pelo litro, enquanto o consumidor paga até R$ 1,20 pelo produto nos supermercados.
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O primeiro a depor foi o diretor de produtos do Wal-Mart, Ildomar Lupatini, que provocou a revolta do relator da CPI, deputado estadual César Silvestri (PPS), porque alegava desconhecimento para responder a maioria das perguntas que lhe eram dirigidas.
Entre as poucas informações que prestou à CPI, Lupatini disse que a margem de lucro do Wal-Mart sobre o leite longa vida é de 12% na venda normal e de 5% quando a rede faz promoções. Ele também confirmou que a rede exige dos fornecedores alguns descontos, como percentual por fidelidade, reposição de margem (baixar preço do produto para acompanhar promoção da concorrência), verba para aniversário e inauguração de lojas.
O diretor do Grupo Sonae, Manuel Antonio Martinez de Araújo, também alegou que a sua rede pratica margens pequenas sobre leite. ''Nossa rentabilidade é de 6,56% sobre o longa vida'', informou. Segundo ele, 82% do leite comercializado pelas lojas da rede são comprados de bacias leiteiras do Paraná porque o Sonae privilegia o produtor paranaense, declaração que foi desconsiderada por Silvestri. ''Não posso levar em consideração uma declaração de amor pelo Paraná quando a sua rede exige mais de 20 tipos de bonificação para o fornecedor poder entregar seu produto na loja.''
Pelas contas do deputado, com essas exigências os fornecedores chegam a dar descontos de 22%. Os representantes das duas redes de supermercados admitiram que chegam a vender o produto abaixo do preço de compra. Mas os dois alegam que isso ocorre quando redes concorrentes iniciam uma promoção.
Ao contrário dos outros dois depoentes, o representante do Carrefour, André Messias da Silva, só admitiu cobrança de quatro tipos de bonificação dos fornecedores. Enquanto o representante do Sonae admitiu que os descontos exigidos chegam a 15%, o do Carrefour alegou que pede no máximo 4% de desconto sobre os produtos lácteos. Ele também se comprometeu a aumentar a compra de fornecedores paranaenses.