O comodismo e a falta de coragem para a modernização de sistemas e serviços podem colocar um ponto final na vida útil das instituições financeiras tradicionais. O alerta foi feito por um dos especialistas financeiros mais requisitados da atualidade, Chris Skinner, durante mesa-redonda promovida pela SAP, empresa global de softwares de gestão, durante a Ciab Febraban 2015, maior feira de Tecnologia da Informação (TI) para o mercado financeiro da América Latina, realizada em São Paulo na semana passada.
De acordo com o executivo, os bancos preferem manter um modelo "antigo e ultrapassado, fadado ao fracasso", a investir em novas tecnologias, principalmente as relacionadas à internet móvel. "Essas empresas foram formadas no século passado, e a estrutura, na época, foi criada para a distribuição física de papel, dinheiro em espécie, e em uma rede localizada, que foca na filial do banco", explicou.
Presidente do Financial Services Club, rede responsável por pesquisas que incidem sobre o futuro dos serviços financeiros, e CEO da Balatro Ltd, Skinner é considerado guru quando o assunto é a tecnologia no setor financeiro. Ele foi eleito, pelo jornal norte-americano The Wall Street Journal, uma das 40 pessoas mais influentes da área no ano passado. Segundo o executivo, o mundo atual está completamente interligado por conta dos celulares, e os aparelhos, na avaliação dele, podem ser utilizados não só de forma pessoal, para comunicação, mas também na promoção de transações de valores. "A partir da implantação dessa tecnologia nos dispositivos móveis, as operações financeiras e bancárias podem acontecer entre pares e semelhantes, sem qualquer intermédio das instituições", argumentou.
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O problema, conforme ele, é que ainda não há uma tecnologia barata e acessível para dar suporte a essa troca de informações. Além disso, as instituições financeiras criam barreiras às novidades com receio de perder clientes. "Há, ainda, a concorrência entre o setor bancário e as operadoras de celular, que têm dificuldades em fechar parcerias. As mudanças, entretanto, estão acontecendo, e os bancos vão precisar se adaptar, cedo ou tarde", observou.
Bitcoin
O executivo citou, como exemplo, a moeda digital Bitcoin, que, de acordo com ele, deu início a um sistema inovador de pagamento em todo o mundo. "O protocolo é simples e permite que transações financeiras ocorram em tempo real, entre quaisquer pessoas, e gratuitamente", explicou. De acordo com ele, uma operação de US$ 86 milhões foi realizada em novembro passado por meio do sistema de Bitcoin em menos de dez minutos. "Era um domingo de manhã. Tudo aconteceu de forma rápida e a custo zero", acrescentou, lembrando que, atualmente, uma transação bancária tradicional, entre o Brasil e Inglaterra, por exemplo, demoraria semanas para ser finalizada e custaria taxas absurdas aos seus envolvidos.
Skinner contou que empresas interessadas nas novas tecnologias surgiram nos últimos anos, sem "vícios do modelo ultrapassado", e com um foco diferente das instituições antigas. "Elas querem distribuição digital de dados, como a troca de valores, em uma rede globalizada", completou. Só nos seis primeiros meses deste ano, de acordo com o executivo, o setor denominado Fintech (mescla de financeiro com tecnologia, em inglês) recebeu investimentos na ordem de US$ 30 bilhões. "No ano passado foram investidos US$ 13 bilhões, e no retrasado US$ 4 bilhões. O valor vem aumentando, gradativamente, por que as empresas perceberam que dá para reestruturar todo esse jeito, atualmente retrógrado, de se fazer transações bancárias e financeiras", destacou.
O executivo estima que pelo menos 20% do lucro dos bancos vão sair de experiências com o setor de Fintech até 2020.